Título: Volume de vendas cresce 7,5% no comércio, mas indica desaceleração
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Fonte: Valor Econômico, 20/10/2004, Brasil, p. A-3

As vendas do comércio varejista aumentaram 7,53% em agosto, em volume, na comparação com igual mês do ano passado, de acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa é a nona alta seguida nesse tipo de comparação. Apesar da trajetória de recuperação do volume de vendas no comércio, o indicador mostra desaceleração nos últimos meses. Em julho, a pesquisa apontou alta de 12,04%. Em junho, de 12,8%, o maior crescimento desde 2001. Em relação a julho, na série ajustada sazonalmente pela LCA Consultores, o volume de vendas do comércio varejista brasileiro mostrou recuo de 0,8% , após alta de quase 1% verificada entre julho e junho. Nessa série, foi a primeira retração do indicador no ano.

Para Nilo Lopes de Macedo, técnico do IBGE, o resultado foi surpreendente e será preciso verificar o desempenho de setembro para confirmar se a desaceleração nas vendas do comércio é uma tendência. Segundo o IBGE, o fortalecimento da base de comparação - a economia brasileira registrou retração no primeiro semestre de 2003, mas reagiu no segundo- e a menor concessão de crédito para consumo explicam o ritmo menor de expansão do comércio. As melhores condições de crédito ao consumidor, o aumento do prazo de pagamento e as taxas de juros menores contribuíram para o resultado positivo dos últimos nove meses. Segundo Macedo, o crescimento das vendas neste período foi muito centrado na concessão de crédito. "Ele seria mais consistente se fosse centrado na renda e no crédito. Dessa forma, acaba perdendo fôlego em razão da própria redução da capacidade de endividamento das famílias." O efeito sazonal também deve ser levado em conta. Agosto é um período marcado pelo esforço do consumidor em quitar dívidas e ganhar fôlego para o fim de ano. "É a hora em que o consumidor começa a reorganizar o orçamento para o Natal", diz Macedo. Em agosto, o setor de móveis e eletrodomésticos registrou a maior expansão de vendas, de 29,5%. Já o setor supermercadista, que depende menos de crédito e é diretamente relacionado à renda e ao emprego, apontou aumento de 4,27% nas vendas em relação a agosto do ano passado. O grupo hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo passou de 10,40% em julho, melhor desempenho da série, para 4,06% em agosto. Essa desaceleração foi um dos principais responsáveis pela menor alta das vendas. As vendas cresceram em 25 dos 27 Estados. Em São Paulo, as vendas do varejo apresentaram desaceleração acentuada: passaram de 12,4% em julho para 6,3% em agosto, sempre em relação a igual período de 2003. No Rio de Janeiro, a expansão foi de 8,55% com o aumento do emprego informal em razão das eleições e com o início da recuperação da indústria. Os dois Estados respondem por quase 50% do comércio nacional. Segundo Macedo, a desaceleração no ritmo de crescimento em São Paulo é resultado de um ajuste natural diante de taxas elevadas. Nos primeiros oito meses deste ano, o comércio acumulou alta de 9,45% no volume de vendas.