Título: Ipea reduz para 2,8% previsão de alta do PIB em 2005
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2005, Brasil, p. A3

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, reduziu fortemente sua previsão para o crescimento econômico brasileiro neste ano. A estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) baixou de 3,5%, no Boletim de Conjuntura divulgado em março, para 2,8%, na edição divulgada ontem. No ano passado, o PIB brasileiro cresceu 4,9%, segundo o IBGE. A principal justificativa foi o fraco desempenho do primeiro trimestre do ano, com crescimento de apenas 0,3% sobre o trimestre anterior (com ajuste sazonal) - a previsão feita em março era de 0,8% -, mas o instituto não espera que o fraco desempenho de janeiro a março se repita no restante do ano. Para 2006 o Ipea prevê crescimento de 3,5%. A redução dos investimentos, que está no centro do debate econômico atual, teve forte influência nas novas previsões para este ano. A queda de 3% na formação bruta de capital fixo, síntese dos investimentos, no primeiro trimestre levou o Ipea a baixar de 8,3% para 4,8% a previsão de aumento dos investimentos no ano. Em 2004 eles cresceram 10,9%. "Níveis de investimento abaixo do projetado anteriormente e política monetária restritiva mais duradoura, além dos próprios dados já observados para parte do ano, são os principais motivos da revisão (do PIB)", diz texto do boletim. Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, ressalta que se trata de crescimento menor e não de queda. Segundo o novo boletim, a taxa de investimentos em relação ao PIB vai passar dos 19,9%, no ano passado, para 21,4% neste ano, menor que o desejado, mas crescente. Para 2006, a previsão é que a taxa chegue a 22,1%. Segundo as novas estimativas do Ipea, o consumo das famílias vai crescer 3,8% em 2005, contra previsão anterior de 4,3%. Pela ótica da produção, a previsão de crescimento da agropecuária baixou de 4,1% para 3,4%; a da indústria foi reduzida de 4,7% para 3,7%; e as dos serviços caiu de 2,4% para 2%. O coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural (GAC) do Ipea, Fabio Giambiagi, fez questão de enfatizar que o quadro é de crescimento menor, mas não de crise. "Apesar do resultado (do PIB) relativamente pobre sobre o trimestre anterior, tivemos um crescimento forte, de 6,3% em relação ao mesmo mesmo trimestre do ano passado, o que dificulta o uso da palavra crise para o que está acontecendo." Ao destacar o crescimento da produção de veículos em maio (19,2%), voltou a alfinetar as análises pessimistas: "Não se justifica falar em crise". Para o Ipea, a trajetória de crescimento do PIB nos outros três trimestres deste ano, em relação ao trimestre anterior com ajuste sazonal, será de 0,7% no atual, 1% no período de julho a setembro e de 1,1% no quarto trimestre, ou seja, uma trajetória ascendente, levando a que, no último quarto do ano, a economia esteja rodando a uma taxa anualizada superior a 4%, ainda que não seja suficiente para permitir, dado o mau desempenho do primeiro trimestre, que o resultado do ano supere 2,8%. Essa recuperação tem um pressuposto básico: que a política monetária seja relaxada no próximo trimestre, provavelmente a partir de agosto, na medida em que o controle da inflação se consolide. Levy espera juros básicos de 19% em dezembro. O Ipea avalia também que, a partir do final de maio, a liquidez será reforçada pelo pagamento do novo salário mínimo de R$ 300, ampliando a demanda doméstica e compensando a perda relativa de dinamismo das exportações para as importações (a previsão é de que exportações cresçam 9,4% e importações, 16,6% no ano). Além disso, como o setor público fechou o primeiro quadrimestre do ano com superávit primário (receita menos despesas, exceto juros) de 7,26%, e a meta para o ano é de 4,25%, é esperada para o resto do ano uma política fiscal mais "expansionista". Os analistas do Ipea fazem duas propostas polêmicas para assegurar a manutenção do crescimento sustentado com inflação cadente para os próximos anos: aumento da meta de superávit primário para 5% e fixação pelo CMN, na reunião deste mês, da meta de inflação de 2007 em 4,5%, a mesma de 2006, mas com trajetória de declínio gradual. O órgão está propondo que a política fiscal mais apertada permita uma política monetária mais frouxa. Estimando que a inflação deste ano seja de 6,3% (contra 5,4% no boletim anterior), os analistas sugerem que, sem tirar o foco da meta de 2006, a taxa de juros seja calibrada para que a meta seja efetivamente alcançada em 2007, mantendo o fôlego da economia.