Título: Preços industriais têm deflação de 0,38%
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2005, Brasil, p. A3

Conjuntura Câmbio, queda de commodities metálicas e petróleo influenciaram resultado do IGP-DI de maio

A conjunção de câmbio valorizado e queda das commodities no mercado internacional (incluindo petróleo) fez com que os preços industriais vendidos ao atacado tivessem deflação de 0,38% no mês passado, bem abaixo do percentual de 1,01% registrado em abril. Foi a menor taxa de variação desde julho de 2003, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ainda que a principal contribuição para a queda da inflação continue a ser o recuo dos preços agrícolas, essa forte desaceleração dos produtos industriais fez com que o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) ficasse negativo em 0,25%, o menor valor desde a deflação de 0,70% de junho de 2003. A variação também ficou abaixo do IGP-M de maio, que mede a variação entre os dias 20 de cada mês, enquanto que o IGP-DI capta o mês cheio, dos dias 1º a 30. A desaceleração dos industriais foi disseminada. Dos 21 subgrupos pesquisados pela FGV, 14 mostraram arrefecimento nos preços, sendo que desses, em dez a variação foi negativa. "A cotação do dólar foi decisiva para o recuo desses preços e, por conseqüência, para o índice como um todo", ressalta Fernando Fenolio, da Rosenberg & Associados. Nos meses de abril e maio, as commodities metálicas, por exemplo, acumularam queda de 4,17% no mercado internacional (preços em dólar). Quando a taxa é atualizada para os preços em reais, o tombo é muito maior: 13,34%, nos cálculos de Fenolio. As commodities agrícolas também recuaram mais de 4% no bimestre abril-maio e impactaram não só os grupos de produtos agrícolas no atacado como animais e derivados (-2,44%), lavouras para exportação (-4,42%) e cereais e grãos (3,57%), mas também alimentos processados, como o açúcar cristal e o óleo de soja, cujos preços caíram 8,64%. A importância dos industriais para a deflação é grande, pois eles foram capazes de amenizar o impacto do reajuste salarial para os trabalhadores da construção, que levou o índice do setor (INCC) a subir 2,09% em maio. Além disso, o IGP-DI contou com uma contribuição menor da queda dos preços agrícolas no atacado (-2,76%) do que a verificada no IGP-M (-3,42%) e ainda assim chegou à deflação de 0,25%. O cenário não foi tão positivo nos preços ao consumidor (IPC), que desaceleraram de 0,88% em abril para 0,79% em maio, mas ainda continuam em patamar elevado. O que preocupa é o fato de as altas de preços ocorrerem em produtos e serviços que estão mais sujeitos à pressão da demanda do que de fatores sazonais. É o caso do aumento de 2,44% nos serviços com empregada doméstica e de 1,30% na refeição em restaurante. Na análise do economista da Rosenberg, a aceleração do núcleo do IPC de 0,65% para 0,73% e o aumento do índice de difusão - que mede a quantidade de produtos em alta - de 64% para 70% em maio deixam claro que a pressão sobre a inflação não vem só dos preços administrados. Para Salomão Quadros, coordenador da pesquisa de preços da FGV, apesar da alta mais generalizada, a tendência é que o movimento de desaceleração de preços no atacado chegue com mais intensidade ao varejo em no máximo dois meses. Depois do IGP-DI de maio, todas as atenções estão concentradas na divulgação do IPCA de maio, amanhã. As projeções variam de 0,40% a 0,50%. Se confirmadas, significarão um recuo expressivo diante dos 0,87% de abril. Mas o número cheio não será suficiente para indicar o que o Comitê de Política Monetária (Copom) fará, dizem os analistas. Na avaliação da Rosenberg, os núcleos continuarão altos. A consultoria espera que o núcleo de médias aparadas fique em 0,68%, quase igual ao 0,70% de abril. Já a LCA Consultores espera um recuo também nessa desagregação dos preços. Para junho, no entanto, a expectativa é de que o varejo capte em maior escala o arrefecimento dos preços agrícolas, o que fará o IPC cair para a casa do 0,30%, estimam os economistas do Bradesco. Outro ponto de alívio virá do INCC, com a diluição do impacto do reajuste salarial. Por outro lado, os preços agrícolas ao atacado não devem mais apresentar deflação tão significativa, ao mesmo tempo em que os industriais podem ter nova variação positiva, pois o câmbio dá sinais de depreciação ante o dólar e o petróleo está subindo mais uma vez. Com isso, a Rosenberg projeta alta de 0,15% no IGP-DI deste mês. O Bradesco ainda não tem um número fechado, mas também aposta em uma variação positiva. (Com FolhaNews)