Título: PT resiste à pressão e mantém Delúbio
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2005, Política, p. A5

Crise Tesoureiro coloca seu sigilo fiscal e telefônico à disposição da Justiça

O PT marcou seu distanciamento em relação às pressões de Brasília e decidiu manter o tesoureiro Delúbio Soares na função e na direção da legenda. Membro da Executiva nacional, o secretário de Finanças sustentou que não está envolvido em nenhuma irregularidade e deu entrevista na condição de dirigente do partido. Na primeira entrevista concedida na tarde de ontem, na sede do partido, em São Paulo, desde que o presidente do PTB, Roberto Jefferson, acusou publicamente Delúbio de fazer um pagamento mensal a parlamentares, o tesoureiro negou todas as acusações e em nenhum momento citou Jefferson. "O PT não participa da compra de votos de deputados, não participa de compra de apoio. Estão tentando chantagear não só o PT, mas também o governo e o Congresso Nacional", afirmou. "O PT não aceita essa chantagem, nem nenhum tipo de chantagem. O PT não abre mão do combate à corrupção na defesa da ética na política e na administração pública". O caixa do PT disse estar "indignado" com as declarações feitas pelo presidente do PTB. "Até agora fui caluniado e massacrado. Não me prejulguem pela versão de uma chantagem porque o Brasil é muito maior do que essa acusação que está sendo feita." O presidente do partido, José Genoino, foi o encarregado de garantir que Delúbio continuará na função e que o tesoureiro está "à disposição do partido" para prestar esclarecimentos. " O que existe são apenas ofensas e agressões", disse Genoino. Questionado se o cargo de Delúbio fora colocado à disposição, o presidente do PT rebateu que o pedido "não foi discutido, tratado ou apresentado". "Como o assunto não foi tratado, vou continuar na minha função", afirmou Delúbio. Ao lado de Genoino e de membros da Executiva Nacional, Delúbio fez um discurso de sete minutos. Visivelmente constrangido, vestindo um terno preto, gravata vermelha e uma estrela do PT ao lado esquerdo da gola da camisa, em seu pronunciamento, o tesoureiro fez sete referências ao fato de ser chantageado. Nos vinte minutos seguintes, dedicados à entrevista, relatou que começou a ser escoltado por seguranças depois do assassinato dos prefeitos de Campinas e Santo André, Toninho e Celso Daniel, por decisão do partido. A medida estendeu-se, além do tesoureiro, ao presidente do partido e ao então candidato à presidência , Luiz Inácio Lula da Silva. Há um ano e meio Delúbio disse ter identificado "um foco de ameaça". Sem identificar de forma clara o agente das chantagens, nem descrever a ameça que o levou a pedir o acompanhamento de seguranças, Delúbio limitou-se a dizer que as perseguições são comuns a membros do partido e que as acusações a que se referia foram "as publicadas no jornal". Reiterou por diversas vezes não ter medo de nenhuma investigação. Delúbio afirmou que concorda "integralmente" com as palavras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a abertura do fórum de combate à corrupção, em que relatou que cortaria na "própria carne" se fosse preciso. "Entendo que qualquer desvio de conduta de qualquer militante do PT tem que tomar providência. Todos têm que ter responsabilidade pelos seus atos. Concordo e parabenizo a coragem do presidente." No começo do discurso, o tesoureiro disse que iria distribuir um currículo seu e logo avisou que coloca à disposição da Justiça seu sigilo bancário, fiscal e telefônico. "O governo tem feito um combate implacável à corrupção e nesses mais de 30 anos na luta política, não acumulei bens, não acumulei vantagens. Tudo foi com o meu esforço. Comecei a trabalhar desde os 14 anos." Delúbio perdeu as estribeiras quando questionado se recebera presidentes de partidos da base aliada em sua casa. Negou, mas disse ter recebido dirigentes e que não via problema nisso. Relatou ter boas relações com Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, a quem atribuiu os adjetivos de "coerente" e "correto". Da esquerda do partido, o terceiro vice presidente e membro da Executiva, Valter Pomar, tentou afastar conflitos entre PT e governo. "Existe por aí a intenção que não é do governo, em transformar esse episódio em uma forma de distanciar o PT e o governo. Isso é coisa de gente de fora do PT". Outro esquerdista, Markus Sokol, atacou a atitude do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PCdoB), de tentar delimitar a crise ao PT. "O governo está enlameando o partido". Sokol relatou ter ficado "indignado ao ver Rebelo dizendo em nome do governo que o problema era dos partidos. Se há investigação a fazer é nas esferas governamental e parlamentar." O ministro do Desenvolvimento Econômico e Social, Jaques Wagner, afirmou que a decisão de afastamento do partido durante as investigações cabe exclusivamente ao próprio Delúbio. "Ele é que deve julgar se ajuda ou atrapalha o fato de permanecer no partido. Mas não dá para pré-julgar com base nas acusações de uma só pessoa. O PT marcou um ato público em defesa do partido para o próximo dia 17, véspera de uma nova reunião do Diretório Nacional.