Título: No comando da comissão, pemedebistas preparam descolamento do governo
Autor: Maria Lúcia Delgado e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2005, Política, p. A6

Maior partido no Congresso, o PMDB começa a se descolar do governo. A sigla, que tem 85 deputados e 23 senadores, se prepara para assumir a condução da CPI dos Correios - comissão na qual contará com sete dos 16 integrantes titulares - depois de um acordo tático que juntou as principais alas do partido, ao longo de reuniões ocorridas na noite de terça-feira passada e durante o dia de ontem. As conversas de terça-feira reuniram o ex-presidente José Sarney (AP) e os deputados Michel Temer (SP), presidente da legenda, Geddel Vieira Lima (BA) e Moreira Franco (RJ), separadamente, na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL). Os três deputados integram a ala pemedebista de oposição ao governo. O grupo oposicionista, antes afastado de Calheiros e Sarney, estabeleceram uma trégua estratégica para trabalhar pela recomposição da legenda e atuar de comum acordo na CPI. A avaliação do PMDB é que o Palácio do Planalto e o PT estão sendo "incompetentes" na administração da crise e que o governo pode fazer água. "Estamos na beira de um precipício", definiu um integrante da cúpula pemedebista. Os parlamentares do PMDB reagiram com irritação à falta de habilidade do PT e do governo para conter a crise política. Na avaliação do partido, o Executivo é lento nas ações e não consegue dar um rumo único a todos os integrantes da base de sustentação do governo. Apesar de os pemedebistas terem decidido em conjunto divulgar uma nota de apoio explícito às investigações nos Correios, suposto pagamento de mesadas a deputados no Congresso, e à denúncias de corrupção do IRB-Resseguros do Brasil S.A, o presidente do Senado fez ponderações para que o partido não sinalizasse com um tom de ruptura ao governo. "Nós só estamos aqui porque nesta hora é preciso de um mínimo de governabilidade", respondeu um parlamentar da ala governista do PMDB. Em nota, o PMDB diz que decidiu agir com "firmeza e serenidade, na medida em que não incentivará gestos meramente políticos ou eleitorais, mas a busca da verdade dos fatos gravíssimos que vieram à luz nos últimos dias". Assinada pela direção partidária e pelos líderes na Câmara e no Senado, a nota diz adiante: "Nesta tarefa, o PMDB reconstitui sua unidade, revelada pelas várias assinaturas que sustentam esse documento e após consulta a todos os setores do partido". O poder do PMDB na CPI será fundamental ao governo. O partido tem sete entre os 32 integrantes da CPI. A moderação do tom da direção partidária revela sobretudo a intenção dos dirigentes da legenda de negociarem, futuramente, uma repactuação da coalizão governista, onde o PMDB teria postos de destaque. Essa postura, no entanto, está condicionada ao desempenho do governo Lula. A cúpula avalia, em reserva, que ou Lula se livra do excesso do PT no governo, ou a crise política se aprofundará. Neste caso, já há pemedebistas que defendem uma debandada do governo para fortalecer uma candidatura alternativa à Presidência em 2006. (RC e MLD)