Título: Apoio do partido deve viabilizar investigação sobre o Mensalão
Autor: Maria Lúcia Delgado e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2005, Política, p. A6

Ganha corpo no Congresso a proposta de se fazer uma CPI específica para apurar a denúncia de pagamento de mesada a deputados pelo Partido dos Trabalhadores. Ontem, o PMDB decidiu apoiar a CPI do Mensalão, que, pela manhã, já havia sido pedida pelo PDT. O PPS e o PV também apóiam a iniciativa, mas é o peso do PMDB que pode viabilizá-la. Na noite de ontem o requerimento já contava com a assinatura de 86 deputados e 11 senadores. Para ser instalada uma CPI mista são necessárias 171 assinaturas de deputados e 27 de senadores. O crescimento da possibilidade da CPI do Mensalão expôs ainda mais a crise interna do PT e a dificuldade de o partido reagir à seqüência de crises que atingem a sigla e o governo. Na noite de terça-feira, após discussões fortes e debates acalorados, a bancada do PT na Câmara decidiu que defenderia a criação de uma CPI da Compra de Votos. O objetivo da investigação era analisar não só o caso do Mensalão - que não é citado nominalmente no requerimento da CPI -, como "casos pregressos", em uma referência velada às denúncias da compra de votos para a aprovação da emenda constitucional que permitiu a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1997. Essa CPI ampla de compra de votos proposta pelo PT, contudo, dificilmente avança. " ? É para unir a bancada e dar discurso para os parlamentares frente a opinião pública, na prática a cúpula do partido não quer a CPI e todos saibamos que dificilmente conseguiremos as assinaturas para esta investigação", disse um deputado esquerdista do PT. Após a reunião da bancada na noite de terça-feira, que chegou a ter gritos e disputas pessoais, alguns deputados já começaram a avaliar que o PT havia errado mais uma vez na estratégia de apoiar a CPI ampla ao invés de propor apenas a investigação do caso do Mensalão. "Nunca vi a bancada tão dividida e tão perdida", afirmou um parlamentar do campo majoritário do partido. Até a noite de ontem 80 deputados, todos petistas, haviam assinado o pedido da CPI da Compra de Votos. O líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), convocou uma reunião na noite de ontem com a bancada para decidir qual posição os senadores tomariam em relação à CPI do Mensalão. Os senadores tinham dúvidas sobre a melhor estratégia: se uma CPI mista, ou só na Câmara. Em nota, o PMDB diz que, "preocupado em desestimular a crise institucional", o partido decidiu apoiar "toda iniciativa investigatória, em especial as que tratam dos Correios, do denominado "Mensalão" e do IRB (Instituto de Resseguros do Brasil)". Na primeira versão da nota, o IRB não era citado. Foi incluído depois de dirigentes pemedebistas concluírem que a CPI do Mensalão se destina a pegar "peixes miúdos" e dar uma satisfação à opinião pública, enquanto que os "peixes graúdos" na realidade estariam no IRB. Com a inclusão do IRB, o PMDB acredita que oferece uma bóia de salvação para o governo, caso o PT decida partir para o enfrentamento com a oposição, pois uma investigação no instituto fatalmente se estenderia ao governo passado e atingiria tucanos e pefelistas. A cúpula do PMDB espera agora a reação do PT. (RC, HGB e MLD)