Título: PMDB é o partido com mais representantes na CPI dos Correios
Autor: Maria Lúcia Delgado e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2005, Política, p. A6

Os integrantes da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Correios foram oficialmente indicados ontem, a despeito da falta de sintonia entre os governistas, que se dividiram ao longo do dia entre diferentes estratégias sobre como deve ser o rumo das investigações no Congresso. Três partidos da base na Câmara não fizeram as indicações até o horário limite: PT, PTB e PL. No Senado, todos os líderes apresentaram os nomes. O presidente do Senado, Renan Calheiros, que havia dado um ultimato aos líderes para que fizessem as indicações até as 18h de ontem, assumiu a responsabilidade da indicação dos partidos que se omitiram. Nesses casos, ele seguiu a regra estabelecida pelo regimento e indicou líderes e vice-líderes. Mais tarde, a liderança do PT na Câmara divulgou os nomes dos titulares - Carlos Abicalil (MT), Jorge Bittar (RJ), Maurício Rands (PE) - e dos suplentes: Henrique Fontana (RS), José Eduardo Cardozo (SP) e Jamil Murad (PCdoB-SP). Pelo regimento interno, a CPI deve ser instalada em no máximo 48 horas após a leitura dos nomes dos membros no plenário, o que ocorreu ontem por volta das 19h. O membro mais velho da CPI - no caso o senador Jefferson Péres (PDT-AM), 73 anos -, tem a prerrogativa de convocar uma sessão para instalação da CPI. Péres deve tomar a iniciativa ainda hoje. O foco da briga entre governo e oposição, agora, passa a ser pela definição do presidente e do relator da CPI, criada para apurar a denúncia de suposto esquema de corrupção em licitações envolvendo dirigentes indicados por partidos da base, especialmente o PTB. O presidente do Senado deixou claro ontem que considera um equívoco político o governo tentar restringir o campo de investigação da CPI dos Correios. "Não vejo como investigar um fato e não investigar o outro", disse Calheiros. Pelas negociações em curso ontem, o PMDB na Câmara reivindicava a relatoria da CPI dos Correios, deixando a presidência para o PT. Estava prevista para ontem à noite uma reunião entre os governistas que integram a CPI para orientar os primeiros passos. A oposição, assistindo às negociações do governo para controlar a CPI, reagiu. O PFL já conseguiu 30 assinaturas para a CPI do Mensalão (denúncia de pagamento a parlamentares em troca de apoio no Congresso) só no Senado. Os descompassos entre estratégias dos governistas ficaram evidentes desde cedo. Pela manhã, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), chegou a fazer um apelo a Calheiros para que adiasse por algumas horas a reunião de líderes, já que a Câmara ainda não tinha tomado uma decisão definitiva sobre a constitucionalidade da CPI, o que seria decidido pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara ontem. O governo queria, na CCJ, restringir o foco de investigação da CPI, limitando-o somente aos Correios. Após a indicação dos membros da CPI, a briga na CCJ passou a ser, aparentemente, um jogo político sem resultados práticos. A oposição, no entanto, temia que, caso o foco da CPI fosse restrito e o governo conseguisse indicar o relator, qualquer investigação mais ampla em outras estatais fosse barrada sob o pretexto regimental de que "foge do fato gerador" da comissão. Os governistas tentaram por mais de seis horas aprovar ontem o relatório do deputado Inaldo Leitão (PL-PB) na CCJ, que julgava a CPI parcialmente inconstitucional, mas determinava que a investigação poderia prosseguir desde que com um foco claro de investigação, restrito aos Correios. O PFL obstruiu o quanto pode a sessão da CCJ. A reunião, suspensa por falta de quórum, foi retomada à noite, mas até o fechamento desta edição o recurso não tinha sido votado. "Queremos uma investigação ampla, não vou aceitar essa manobra do governo de fazer meia investigação", afirmou o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). ACM Neto. Os governistas salientavam que a decisão da CCJ era importante para dar validade às investigações da CPI, impedindo contestações jurídicas futuras. Em consultas informais a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a oposição recebeu sinais de que o Judiciário não consideraria inconstitucional a investigação mais ampla.