Título: Ministros defendem investigação
Autor: Raymundo Costa, Maria Lúcia Delgado e Henrique Gom
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2005, Política, p. A9

O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo, disse ontem, no Rio, que "nunca ouviu falar" sobre o suposto esquema de pagamento de mesada a deputados do PP e do PL, denunciado pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ). O ministro classificou de "completamente fantasiosa e inventada" a idéia de que haveria 80 ou 100 deputados que receberiam R$ 30 mil por mês do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, em troca de apoio político. "Com toda sinceridade, o Congresso funciona de maneira transparente. É muito difícil fazer qualquer reunião reservada no Congresso porque logo todo mundo sabe o que está ocorrendo. Não haveria a menor chance de isso ser feito sem que o país tomasse conhecimento em poucos dias", disse Paulo Bernardo antes de participar da cerimônia de abertura da Conferência Regional sobre a Sociedade da Informação. Segundo ele, caberá ao próprio partido e não ao presidente da República definir qual será o destino de Delúbio. "Esta é uma decisão que cabe ao partido. O presidente não é dirigente do PT e não cabe a ele tomar medida sobre o que o partido faz. O presidente nomeia e afasta seus auxiliares, mas não pode ter ingerência sobre o partido. Ele (presidente) está cuidando bem da situação", opinou o ministro. Em sua avaliação, a crise pela qual passa o governo federal em razão das últimas denúncias envolvendo integrantes do governo e da base aliada não "atingirá o país". "O Brasil não vai parar. O Congresso vai se debruçar sobre a CPI e teremos período em que as votações vão andar de forma mais lenta. Mas o que tenho percebido é que as lideranças, inclusive as da oposição, têm se comportado de maneira conseqüente. Portanto, uma ou outra fala irresponsável não vai dar o tom (do processo)", disse. Questionado se a instalação de uma CPI para apurar as denúncias de corrupção nos Correios poderia atingir mais o Legislativo do que o Executivo, o ministro respondeu que "a gente sabe como começa uma CPI, mas como acaba é muito difícil". "Mas o governo está tranqüilo. Nós inclusive determinamos que a Polícia Federal e a Corregedoria Geral da União tomassem todas as medidas para esclarecer qualquer acusação. Portanto, nós vamos fazer a nossa parte e temos certeza que o Congresso fará também", afirmou Bernardo. Também presente ao evento, o ministro de Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, defendeu a instalação de uma CPI para "apurar e punir os culpados", mas afirmou que cabe ao Parlamento definir se serão uma ou duas comissões. "O importante é que o Parlamento tenha condições de fazer a mais ampla apuração, da mesma forma com que o Executivo fez desde que tomou conhecimento desse e de outros fatos. O Parlamento tem na CPI uma forma de contribuir com as investigações e aí tem que decidir se fará via uma ou duas CPIs", disse o ministro Eduardo Campos, acrescentando que o discurso do presidente Lula, no Fórum Global de Combate à Corrupção, na terça-feira foi "esclarecedor".