Título: PTB decide entregar cargos e apoiar CPI do Mensalão
Autor: Raymundo Costa, Maria Lúcia Delgado e Henrique Gom
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2005, Política, p. A9

Crise Partido vai aguardar até dia 17 para receber pedido de afastamento de seu presidente, Roberto Jefferson

As bancadas do PTB no Congresso decidiram ontem entregar os cargos que têm no governo, apoiar a criação da CPI do Mensalão, deixar o bloco de apoio ao governo no Senado e aguardar até o dia 17 para receber o pedido de afastamento de seu presidente, deputado Roberto Jefferson (RJ). "Entrei pela porta da frente e vou sair pela porta da frente", disse Jefferson aos petebistas, em um série de conversas na qual a tônica foi a ameaça de cair atirando. "Estou liquidado. Não tenho volta", disse Jefferson numa das conversas. O presidente do PTB, que passou o dia de ontem novamente trancado em seu apartamento funcional em Brasília - parte do tempo foi gasto em uma aula de canto, ouvida até na rua por populares - informou aos colegas que quer depor na Comissão de Ética da Câmara e que ninguém o impedirá de falar na CPI dos Correios. No dia 17, ele pretende fazer uma espécie de pronunciamento à Nação. É o que chama de "sair pela porta da frente". "Eu quero ser cassado. Não quero participar de uma Câmara tendo como colega o deputado Valdemar da Costa Neto (PL-SP), não quero participar de uma Câmara tendo como colega o deputado José Janene (PP-PR), não quero participar de uma Câmara presidida pelo deputado Severino Cavalcanti (PP-PE)", disse, segundo relatos de parlamentares do PTB. Costa Neto e Janene são dos partidos que teriam deputados que receberiam "mesada", segundo a denúncia de Jefferson. O petebista insinua também que dispõe de munição pesada contra o ministro José Dirceu (Casa Civil). O que provocou a reação em cadeia do PTB foi uma declaração do ministro Olívio Dutra (Cidades), segundo a qual o problema do governo eram as más companhias. "É uma posição pessoal do ministro, com a qual não concordo", disse Aldo Rebelo (Coordenação Política). "Não sei se ele se refere a algum partido ou a seu próprio partido", disse o deputado Luiz Antonio Fleury (SP). "Tenho a impressão que muita gente pode afundar e não o PTB. Ele (Roberto Jefferson) teve a coragem de furar um tumor de coisas sobre as quais já se falavam no Congresso", disse. No Congresso, os parlamentares apostavam que pelo menos 30 deputados serão citados nos primeiros pronunciamentos de Jefferson. Apesar de haver decidido entregar os cargos, o PTB manteve apoio ao governo. O ministro Walfrido Mares Guia (Turismo) e o líder no Congresso, senador Fernando Bezerra (RN), podem permanecer, caso Lula peça, mas será uma decisão pessoal de cada um. Irritados com a falta de habilidade do governo para conduzir a crise, os três senadores do PTB - Mozarildo Cavalcanti (RR), Sérgio Zambiasi (RS) e Fernando Bezerra (RN) - anunciaram ontem o desligamento da legenda do bloco de sustentação do governo no Senado. A gota d ? água para o afastamento foram as declarações de Olívio Dutra. O desligamento do PTB torna ainda mais complicada a situação do governo no Senado, onde não tem maioria. Ficam no bloco do governo agora apenas os senadores do PT, PSB, PL e PPS. O PTB "deixa o bloco, mas não o governo", esclareceu Zambiasi. O líder do governo no Congresso, Fernando Bezerra, pediu que fosse refeito o cálculo de composição da CPI Mista dos Correios. Fora do bloco, o PTB passa a ter uma vaga, no lugar do PP, que só tem um senador.