Título: Argentina também se prepara para falta de gás
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2005, Internacional, p. A11

A crise boliviana está obrigando o governo argentino a rever seus planos para resolver a escassez energética do país. A perspectiva é de que sem a garantia de abastecimento de gás boliviano, a falta de energia que ocorreu no ano passado deve se repetir nos próximos anos, e as medidas ao alcance das autoridades podem servir apenas para amenizar o problema, mas não para resolvê-lo. Por enquanto, o governo argentino vem se mantendo em silêncio sobre o assunto, mas, desde que a crise boliviana se agravou, as autoridades deixaram de mencionar o plano de construir um gasoduto ligando a Bolívia e o norte argentino. O duto teria capacidade de transportar 20 milhões de metros cúbicos de gás por dia, justamente a quantidade que falta para que a Argentina normalize seu abastecimento. Outro problema é o gás que a Argentina importa atualmente da Bolívia, cerca de 7 milhões de metros cúbicos. Se o gás for nacionalizado, os contratos para seu envio devem ser renegociados, significando aumento de custos. Em um cenário mais pessimista, o fornecimento poderia ser cortado. No mês passado, o governo anunciou um plano para expandir a capacidade de transporte de cinco gasodutos que operam no país, além de incentivos fiscais para empresas que realizem prospecção de gás e petróleo. Com isso, as autoridades esperam ampliar a oferta de gás em 20 milhões de metros cúbicos por dia, mas terão de contar com sorte para que isso ocorra. Mesmo que consiga aumentar a capacidade dos gasodutos, o abastecimento não vai melhorar se não houver mais gás para transportar, o que depende do sucesso dos projetos de prospecção. Estes, por sua vez, ainda estão em fase de estudo, e muitas empresas resistem em realizar os investimentos necessários depois de sofrerem com a pesificação e congelamento das tarifas de energia, que foram reajustadas apenas parcialmente. Deste modo, a possibilidade de a Argentina aumentar sua oferta energética se restringe hoje ao aumento das compras de óleo combustível, para substituir o gás em termelétricas, e ao corte das exportações de gás ao Chile.