Título: Mesa e Morales falam em guerra civil
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 09/06/2005, Internacional, p. A11

Em clima de confronto civil e em meio a bloqueios em 6 das 9 capitais regionais do país, o Congresso boliviano se reúne hoje em Sucre (capital constitucional) para votar se aceita a renúncia do presidente Carlos Mesa e a sua sucessão. Evo Morales, líder do principal partido de oposição, o MAS (Movimento ao Socialismo), disse que vai pressionar para evitar que Hormando Vaca Díez, presidente do Senado e o próximo na linha de sucessão, fique na Presidência. Morales, que deseja eleições antecipadas. Anteontem, o presidente Mesa alertou para o risco de guerra civil caso não haja novas eleições. Morales admitiu que o país está em clima pré-guerra civil e que os ânimos dificilmente serão desarmados: "A crise responde a um movimento ininterrupto de libertação dos povos indígenas. As autoridades, não compreendendo isso, podem causar uma guerra civil". "Despertamos. É um movimento que não vai parar. Vamos em busca da libertação", disse, referindo-se à exigência dos movimentos indígenas de que a indústria de petróleo e gás do país seja estatizada. A crise no país decorre de uma explosão de raiva contra a pobreza e a exclusão social, potencializada pelo fato de grupos indígenas, que formam cerca de 60% da população do país, estarem se organizando politicamente e exigindo, pela primeira vez, participação direta no governo. Esse ambiente conturbado favorece demandas populistas, como a estatização do gás.