Título: Sob pressão do PTB, Jefferson diz que apresentará provas
Autor: César Felício e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2005, Política, p. A8

Pivô da crise política enfrentada pelo governo, o presidente nacional do PTB, deputado federal Roberto Jefferson (RJ), somente ontem decidiu dar uma trégua ao isolamento e receber colegas de partido. Coube ao ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, tentar uma aproximação com o parlamentar. Numa conversa de aproximadamente três horas na tarde de ontem, em Brasília, Mares Guia tentou convencer Jefferson a pedir licença da presidência da legenda e evitar maiores constrangimentos. Enquanto isso, o PL pedia a cassação de Jefferson na Câmara, apresentando requerimento à presidência e à corregedoria. Ainda havia resistências do deputado para se licenciar, mas a expectativa é que a licença seja oficializada hoje. Os cotados para assumir a presidência do PTB são Mares Guia ou o senador Sérgio Zambiasi (RS). O ministro e o líder do governo no Congresso, Fernando Bezerra, decidiram também colocar os cargos à disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os cargos em todas as estatais também serão devolvidos a Lula. "O presidente mantém ou não, se quiser", explicou o líder. Mares Guia e Bezerra iriam comunicar a decisão a Lula na noite de ontem. O PTB divulgará nota hoje sobre o episódio, dizendo que o apoio ao governo independe de cargos. "Será uma demonstração de que o partido não é fisiológico", disse Bezerra. O PTB vai defender ainda a CPI dos Correios e outras investigações necessárias sobre o episódio. O partido evitou propor expulsão a Jefferson para não tensionar ainda mais o quadro político. O deputado Luiz Antônio Fleury (SP), secretário do partido, confirmou que há divisão sobre qual é a melhor estratégia, se a expulsão de Jefferson ou o licenciamento negociado. O deputado Nilton Capixaba (PTB-RO) saiu de uma reunião com Jefferson, na qual, segundo ele, o presidente da sigla disse que ainda tem coisas muito mais graves para falar e que tem provas de tudo que disse na entrevista à "Folha de S. Paulo". Segundo Capixaba, Jefferson afirmou que vai revelar as informações quando for convocado a depor em CPI ou na reunião do diretório nacional do PTB, que será realizada nos dias 17 e 18 de junho. Enquanto os correligionários tentavam retomar o diálogo com Jefferson, a base aliada não o poupava: o PL protocolou na Mesa Diretora da Câmara um pedido de abertura de processo disciplinar por quebra de decoro parlamentar. A representação do PL contra Jefferson será encaminhada diretamente ao presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP). Somente após o primeiro despacho de Izar é que o processo está instaurado. A partir daí, uma eventual renúncia de Jefferson não surte efeito até o fim do processo, ou seja, ele corre o risco de perder os direitos políticos se for cassado. O PL alega que a ofensa a outros parlamentares constitui ato incompatível com a ética, cujo objetivo era denegrir a imagem do Legislativo com um tom "maledicente. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, também explicou as providências que adotará. Disse que pediu ao corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI), que apure as denúncias. Quando perguntado sobre a isenção do corregedor, que é de um dos partidos denunciados, e quais os resultados de investigação sobre denúncia de que ele próprio havia feito, ao assumir, de que parlamentares receberam R$ 20 mil para mudar de partido, Severino irritou-se e abandonou a entrevista.(Colaborou Henrique Gomes Batista, com agências noticiosas)