Título: Líderes da base aliada darão apoio a CPI restrita
Autor: César Felício e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2005, Política, p. A8

Sem saída diante do agravamento da crise política, os líderes de partidos da base aliada do governo concluíram que não havia mais condição de impedir a instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Correios e passaram ontem a apoiar a investigação. Para isso, precisaram mudar de discurso e estratégia em poucas horas. Em comum acordo, os líderes decidiram, em reunião na noite de segunda-feira na casa do deputado José Janene (PP-PR), que defenderiam a CPI dos Correios desde que o fato gerador fosse restrito, ou seja, que a comissão se limitasse a investigar um suposto esquema de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), envolvendo funcionários indicados por partidos da base, especialmente o PTB. Apesar da decisão, os próprios líderes admitiam em reserva que, uma vez instalada a CPI dos Correios, não há como evitar o desdobramento das investigações. O governo está ciente de que o foco central da CPI será a denúncia feita pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), de que o PT pagava mensalidades de R$ 30 mil a deputados do PP e PL em troca de votos no Congresso. A oposição defende a tese de que a CPI dos Correios atue em todas as linhas de investigação das recentes denúncias de esquemas de corrupção. "Na hora em que o Roberto Jefferson sentar na cadeira para falar à CPI, ninguém vai conseguir barrar investigação nenhuma", confessou um líder aliado. Diante da nova estratégia, os líderes da base tiveram também que mudar a atuação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, onde seria votado ontem o recurso que definiria o futuro da CPI, ou seja, se o requerimento de criação da comissão é constitucional ou não. Inicialmente, os governistas apelaram para a tese da inconstitucionalidade com o intuito de derrubar a CPI, dizendo que não havia fato gerador. Com a mudança do cenário político, tiveram que defender a constitucionalidade, desde que com ajustes. A tentativa dos governistas de defender a CPI dos Correios restrita provocou novos embates com a oposição e mais um dia de tumulto em Brasília. O relator do recurso na CCJ, Inaldo Leitão (PL-PB), definiu que a CPI era parcialmente inconstitucional - por ter foco amplo -, mas que ela poderia ser criada desde que a investigação fosse limitada aos Correios. Ou seja, reproduziu exatamente a nova tese defendida pelo governo. A oposição decidiu obstruir a votação, por querer uma investigação ampla em estatais e englobando o caso "mensalão". "Queremos a CPI, só que a CPI ampla, para investigar tudo e não apenas metade das denúncias", afirmou Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). Em meio ao embate, o recurso sequer foi apreciado ontem. Nova sessão da CCJ foi marcada para hoje às 10h. O governo já admitia na noite de ontem outras mudanças. O autor do recurso, deputado João Leão (PL-BA), pode retirá-lo da CCJ. Se isso ocorrer, a CPI pode ser imediatamente instalada. Outra possibilidade é o recurso ser votado diretamente no plenário. Se nada disso ocorrer, os líderes serão pressionados hoje, pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, a indicar todos os integrantes da comissão. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse que os aliados sempre foram favoráveis à CPI dos Correios, desde que não fosse utilizada como instrumento eleitoral. "A decisão de fazer ou não a CPI sempre foi do Congresso. O governo vai colaborar com todas as investigações decididas no âmbito do Poder Legislativo", argumentou o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. Os governistas admitiram que a mudança de estratégia do governo gerou alívio entre os partidos da base. Vários parlamentares não escondiam o constrangimento em apoiar uma ação anti-CPI. "Continuar contra a CPI, além de inócuo, seria completamente impopular", resumiu o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). (MLD e HGB)