Título: PSDB rejeita comparação de Lula com Collor e leva o PFL a baixar o tom
Autor: César Felício e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2005, Política, p. A8

Os governadores tucanos de São Paulo, Geraldo Alckmin, e Minas Gerais, Aécio Neves, e os pemedebistas do Rio de Janeiro, Rosinha Matheus, e do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, buscam o papel de fiadores da governabilidade. Em debate ontem, afastaram a hipótese de impeachment presidencial, em função das denúncias de corrupção feitas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Mas cobraram a instalação de uma CPI sobre o caso, horas antes de o governo rever sua posição e concordar com a investigação parlamentar. Os quatro governadores foram entrevistados simultaneamente ontem pela rádio "Band News". "Lula não é o presidente Collor. Tem uma história pessoal que merece o nosso respeito. Seu governo é acusado de grandes desvios, mas não vamos transformar isso, desde já, num ambiente eleitoral que contamine a vida do país", afirmou Aécio, referindo-se ao presidente Fernando Collor de Mello, afastado pelo Congresso em 1992. Na saída do estúdio, Aécio afirmou que foi feito um acordo dentro do PSDB para conter o processo político. "A nossa responsabilidade de partido de oposição que viveu oito anos de poder e que tem compromissos claros com o país nos leva a limitar as investigações aos fatos denunciados. Não contem conosco para a antecipação do processo eleitoral", disse, segundo sua assessoria de imprensa. Embora tenha ressalvado que a investigação no Congresso não pode se transformar em palco de luta política, Alckmin foi mais incisivo em relação ao presidente. "Ele deve explicações à nação. O próprio governo confirmou ontem (anteontem) o conhecimento do presidente acerca dos fatos relatados". A governadora fluminense, que defende o rompimento do PMDB com o governo, também optou pela moderação. "Sou uma democrata, favorável a respeitar o voto que a população ofereceu a seus candidatos. O Lula ganhou a eleição e isto tem que ser preservado. Vamos deixar para a opinião pública nas próximas eleições a tarefa de eleger outras pessoas", disse. Rigotto sugeriu saídas políticas para o presidente. "Lula tem que recuperar o tempo perdido. Eu iria para a televisão, falaria das medidas que devem ser adotadas. O governo errou, está muito arranhado por ter trabalhado contra a CPI", disse. Neste momento, contou com a concordância do mineiro. "Reconheço importantes virtudes no presidente, que é a sua capacidade de se comunicar com as pessoas. É isso que as pessoas esperam dele. Ele tem talvez a sua última oportunidade de recuperar a interlocução com a sociedade brasileira". PSDB e PFL decidiram agir em sintonia diante da mais grave crise política enfrentada pelo governo, a despeito de divergências iniciais de discurso entre os oposicionistas observada logo após a explosão da denúncia do deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre compra de votos pelo PT. As cúpulas dos dois partidos, em jantar na noite de segunda-feira, em Brasília, e em encontros durante a manhã de ontem, encamparam a estratégia de não defender o impeachment do presidente por prevaricação. A oposição analisa que crise aumenta sensivelmente as chances de vitória dos partidos na eleição presidencial de 2006 e considera que é mais proveitoso um desgaste gradual do governo. A voz distoante era do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, o primeiro pefelista a defender enfaticamente o impeachment de Lula. Em encontro com dirigentes do PFL em São Paulo, Maia foi informado da estratégia comum com o PSDB, e concordou em amenizar o tom. O prefeito é pré-candidato do PFL à presidência. O fato de pré-candidatos do PSDB terem aparecido com mais destaque nas últimas pesquisas de intenção de voto não afasta o PFL dos tucanos, dizem os parlamentares pefelistas. "A oposição tem perspectiva real de vitória", concluiu o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN). Segundo o senador, a crise política foi tão explosiva que gerou algumas divergências iniciais de atuação dos dois partidos, já superadas. "Estamos em total conexão", garantiu ele. O líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), confirmou que os dois partidos, agora, estão no mesmo tom. "O estilo dos debatedores pode ser um pouco diferente, mas PFL e PSDB estão em perfeito ajuste", explicou o líder. Na noite de segunda-feira, participaram de um jantar todos os líderes do PSDB e PFL no Senado e na Câmara. O PSDB, por orientação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, saiu com o discurso moderado desde o início da crise. O vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), enumera diferenças que podem explicar comportamentos inicialmente distoante entre os dois partidos diante da crise. "Quando se chega na área econômica, como são absolutamente iguais ao PT, os tucanos abaixam o tom das críticas. O PSDB tem uma estratégia clara de fragilizar o governo e mantê-lo pequeno, até que um retumbante tucano surfe na onda da desgraça do PT. O PFL tem um candidato à presidência ainda pequeno, mas acha que ele pode crescer triturando o governo", explicou Nonô.