Título: Renúncia de Mesa não resolve crise
Autor: Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 08/06/2005, Especial, p. A12

A renúncia anteontem do presidente da Bolívia, Carlos Mesa, foi só mais um passo na prolongada crise no país. E está longe de ser uma solução. Os protestos continuaram ontem em várias regiões do país, com mais violência. Pela lei boliviana, o Congresso deve votar se aceita ou não a renúncia de Mesa. Há dúvidas se isso poderá ser feito logo, pois a capital está bloqueada por manifestantes. Se a renúncia for aceita, assume o presidente do Senado. Mas é possível que ele também renuncie, assim como o seguinte na linha de sucessão, o presidente da Câmara. Nesse caso, a Presidência seria assumida interinamente pelo presidente da Suprema Corte, que teria três meses para convocar novas eleições. Esse acerto político possibilitaria a antecipação das eleições, mas resta saber se os presidentes do Senado e da Câmara realmente renunciarão. Avalia-se, porém, que não há clima político para que eles se mantenham no cargo. O principal líder oposicionista, Evo Morales, disse ontem aceitar a renúncia de Mesa e a convocação de eleições antecipadas. Mas a oposição está dividida e há ampla atuação de grupos extremistas, que pregam, entre outras coisas, a nacionalização do petróleo e do gás, com expropriação de instalações de empresas estrangeiras, inclusive da Petrobras. Autoridades brasileiras temem que líderes oposicionistas tenham perdido o controle dos protestos para as minorias extremistas. A avaliação é que há uma explosão de raiva no país, devido à pobreza e à exclusão. E um dos alvos são as empresas que operam a principal fonte de riqueza, a energia.