Título: Inflação sobe no varejo e mostra retração no atacado
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2004, Brasil, p. A-2

A inflação no varejo volta a dar sinais de elevação em outubro, por conta do menor arrefecimento dos alimentos e uma pressão mais forte do vestuário. Enquanto isso, no atacado, a situação é outra: os preços de outubro estão em queda, pois ainda contam com a contribuição positiva dos alimentos in natura - que seguiram em desaceleração - e de uma inesperada deflação dos combustíveis de 0,22%. Mas tanto os fatores que puxaram para cima, quanto os que ajudaram a inflação a ceder são transitórios, uma vez que os núcleos dos índices permaneceram estáveis ou até mesmo desaceleraram. O índice de preços ao consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que mede a inflação em São Paulo, subiu para 0,38% na segunda quadrissemana de outubro, frente 0,27% da medição anterior. No entanto, o núcleo dos preços, - que identifica melhor a tendência da inflação - além de caminhar abaixo do índice cheio, ficou quase estável, subindo de 0,30% para 0,31%.

Por outro lado, a cesta de produtos industrializados calculada pela instituição caminhou de 0,52% na primeira medição para 0,56% - o que mostra que a maior pressão para o varejo poderá vir do repasse de preços do atacado. "Daqui para frente, são os industrializados que contarão a história da inflação", afirma Paulo Picchetti, coordenador da pesquisa de preços da Fipe. De acordo com a instituição, o preços dos alimentos passou de uma deflação de 0,33% na primeira medição do mês para uma taxa negativa de 0,11% agora. O grupo de transporte foi de 0,50% para 0,64%. Porém, ainda não foi pressionado pelo gasolina, que só irá aparecer no índice da Fipe nas próximas semanas, e sim pelo preço do automóvel usado, que subiu 2,30%. Com o reajuste de 1,6% da gasolina nas refinarias, Picchetti já alerta para a possibilidade de revisão da expectativas do mês, que está em 0,44%. "Já estamos vendo aumento de até 5% em alguns postos da cidade", alerta. Ao mesmo tempo, é preciso contar com a perspectiva de mais uma elevação, que deve ocorrer logo após as eleições, diz Picchetti. Já a segunda prévia do índice geral de preços do mercado (IGP-M), apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) também neste mês ficou em 0,12%, frente uma alta de 0,61% no mesmo período de setembro. Os preços ao consumidor (IPC) cederam de 0,14% em agosto para uma deflação de 0,04% em setembro, enquanto os do atacado (IPA) foram de 0,77% para 0,06%. O índice nacional da construção civil (INCC) caminhou na contramão, e subiu de 0,71% para 0,99%. Entretanto, a LCA Consultores ressalta que esses índices ainda não captaram os aumentos de alguns insumos industriais, "sobretudo nos setores petroquímico e siderúrgico".