Título: Problema está na má distribuição
Autor: Couto , Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 08/04/2010, Brasil, p. 15

Dados do CFM indicam que problemas no setor se devem à concentração de médicos em poucas regiões do país

O deficit de médicos no interior do país e as cenas de prontos-socorros lotados em todas as regiões não significam que faltam profissionais no Brasil. Pelo contrário. Dados do Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgados ontem em Brasília relevam que há uma má distribuição dos exatos 330.825 trabalhadores em todo o território nacional. De acordo com a entidade, a média nacional é de um doutor para cada grupo de 578 habitantes, índice próximo ao dos Estados Unidos, que é de um para 411 pessoas. O levantamento, inédito, consolidado com dados coletados entre 2000 e 2009 (leia quadro), também mostra uma tendência de feminilização da profissão. Pelo menos 54% dos graduados inscritos no conselho, nos últimos nove anos, são mulheres.

Na tentativa de minimizar os problemas causados pela concentração dos médicos nas regiões Sul e Sudeste, que juntas abrigam 72% (238.400) dos profissionais de todo o país, o primeiro secretário do CFM, Desiré Carlos Callegari, defende a adoção de eficazes políticas de interiorização do trabalho médico. O que foi feito até agora nesse sentido foram medidas paliativas para tentar distribuir esses profissionais no interior. É preciso criar uma carreira de Estado aos médicos, afirma. Enquanto a maioria exerce medicina no Sul e no Sudeste, 17% (55.315) escolheram o Nordeste, 7% (23.528) optaram pelo Centro-Oeste e apenas 4% preferiram atuar no Norte (13.582).

Para o secretário de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Francisco Campos, a má distribuição de profissionais de saúde afeta todo o mundo, tendo um peso maior nas áreas mais pobres e carentes de profissionais. Mesmo regiões ricas têm pontos com baixa cobertura de profissionais e de serviços. O Brasil tem um número de profissionais de saúde considerado dentro da média. Temos adotado medidas para incentivar a fixação dos profissionais nas áreas mais remotas, rebate. Uma das iniciativas citadas pelo secretário é o projeto que prevê a quitação de parte dos valores acumulados pelo Financiamento Estudantil (Fies) aos alunos de medicina que optarem pela inserção no programa Saúde da Família (programa Saúde da Família) em locais de escassez de profissionais.

Feminilização Apesar de as pessoas de sexo masculino ainda representarem a maioria (61%) entre os médicos em exercício no país, o CFM constata que há uma feminilização da medicina. O reflexo dessa tendência já pode ser percebido entre os recém-formados inscritos no conselho: 54% são do sexo feminino. As evidências de que a área está cada vez mais feminina é visível nas salas de aula dos cursos de medicina. Em 2008, a Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), situada em Brasília, tinha 496 alunos matriculados, sendo 233 mulheres e 263 homens. No vestibular seguinte, naquele mesmo ano, dos 80 aprovados, 39 eram do sexo feminino e 41, do masculino.

Aluna do 5º ano de medicina da ESCS, Daniella Rodrigues, 25 anos, concorda com a tendência. É visível não apenas nas salas de aula, mas também entre os profissionais formados, afirma. Douglas Fonseca, 22, encara com naturalidade o aumento do número de mulheres no mercado. Até nas calouradas dá para perceber que elas já são maioria, confirma. O sexo masculino ainda é maioria na turma, mas no grupo de internos ouvido pela reportagem, quem manda são as mulheres. Tiago Freire, 28, Ana Carina, 24, Kamilla Graciano, 22, Mariana Reis, 22, e Waleska Palhares, 25, também integram o grupo de alunos que participam de aulas em regime de internato em Sobradinho.

Distribuição

A partir de dados coletados de 2000 a 2009, o Conselho Federal de Medicina (CFM) fez um mapeamento dos médicos no país. A unidade da Federação com maior concentração de profissionais é o Distrito Federal (um para 297 habitantes), enquanto no Maranhão esse número é de um para 1.932 pessoas. Veja, abaixo, o ranking com os cinco estados que apresentaram os melhores e os cinco com piores resultados.

Número de habitantes por médico

Melhores

Distrito Federal 297 Rio de Janeiro 376 São Paulo 411 Rio Grande do Sul 443 Paraná 538

Piores

Maranhão 1.932 Amapá 1.374 Piauí 1.160 Acre 1.118 Rondônia 1.053

Fonte: Conselho Federal de Medicina (CFM)

Menos feijão e mais frutas

Luiza Seixas

No Dia Mundial da Saúde, comemorado ontem, o Ministério da Saúde divulgou pesquisa que mostra que 30,4% da população com mais de 18 anos está comendo mais frutas e hortaliças. No entanto, esse dado ainda não é suficiente para afirmar que a alimentação no país está mais saudável. De acordo com o ministro da saúde, José Gomes Temporão, ainda é necessário diminuir o consumo de carnes gordurosas, refrigerantes e sucos artificiais. Além disso, os brasileiros precisam estar mais atentos para a prática de exercícios físico. De 2006 a 2009, o número de sedentários no país cresceu 24%. Brasília, Florianópolis e João Pessoa são as capitais em que mais existem pessoas que não praticam nenhuma atividade.

Esses dados, como destacou Temporão, são preocupantes. Segundo ele, Praticar atividades físicas regularmente e promover uma mudança alimentar são duas vacinas importantes contra doenças como o câncer e as cardiovasculares. A população precisa estar atenta para a orientação da OMS (Organização Mundial de Saúde), que recomenda a prática de exercício cinco vezes por semana e 30 minutos por dia, além de ampliar o consumo de fibras e de reduzir o teor de gorduras. Isso é suficiente para manter o peso e reduzir o risco de doenças, explicou o ministro.

A revelação de que os brasileiros estão reduzindo o consumo do feijão também surpreendeu o chefe da Saúde. Segundo ele, isso mostra que a dinâmica familiar vem passando por uma grande mudança. Ou seja, as pessoas estão tendo menos tempo para preparar a comida e aumentando a procura por alimentos industrializados. A pesquisa mostra um aumento preocupante do consumo de refrigerantes, de leite com gordura e de sucos industrializados. Isso, aliado à redução do feijão e também a um padrão ainda baixo (do consumo) de frutas, verduras e hortaliças e (elevado) de carne com gordura, se expressa depois em obesidade, sobrepeso e doenças crônicas, completou.

No próximo domingo, o Ministério da Saúde realizará em todo o país atividades para trabalhar com a população esses dois pontos: a qualidade na alimentação e a prática de atividades físicas.

Nova gripe Após o anúncio da pesquisa, o ministro Temporão aproveitou para lembrar que, no próximo sábado, haverá um dia D, quando os mais de 36 mil postos de saúde de todo o país estarão abertos para vacinar contra a influenza A (H1N1) o grupo da terceira etapa jovens entre 20 e 29 anos, crianças entre 6 meses e 2 anos, gestantes e doentes crônicos com menos de 60 anos. A intenção, segundo ele, é que a população tenha mais tempo para se proteger. Muita gente afirma que não se imuniza porque tem que trabalhar, não tem tempo ou esqueceu. Então, no próximo sábado, não tem desculpa. Antes de jogar bola ou fazer a caminhada, passe no posto e tome a vacina, completou.

Incentivo a mais

O Ministério da Saúde promoverá, no próximo domingo, em 76 cidades do país o Dia da Promoção da Qualidade de Vida, que contará com programação esportiva e cultural, além de orientação sobre a importância de adotar hábitos saudáveis. O evento está ligado à Política Nacional da Promoção da Saúde, que hoje beneficia mais de 1,5 mil municípios com incentivos financeiros para desenvolver ações que estimulem práticas saudáveis e a melhoria da qualidade de vida. De acordo com o ministério, entre 2006 e 2009 já foram repassados R$ 122,4 milhões com essa finalidade.