Título: Perda de competitividade foi fruto de choques, afirma Levy
Autor: Rodrigo Bittar
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2004, Brasil, p. A-3

A Secretaria do Tesouro Nacional respondeu, ontem, com uma semana de atraso, dois relatórios internacionais que detectaram a queda do Brasil no ranking de competitividade global. Em um documento de nove páginas, explicado pelo secretário do Tesouro, Joaquim Levy, o governo pondera que os estudos publicados pelo Fórum Econômico Mundial (cuja sigla em inglês é WEF) e pela consultoria A.T. Kearney refletem, "com atraso", os choques externos sofridos em 2002 "cujos efeitos têm sido mais que compensados desde então". Levy informou que o documento do Tesouro foi distribuído a investidores internacionais, anteontem, para que eles tenham "mais um instrumento" de análise do quadro do país. No ranking de competitividade divulgado pelo WEF, o Brasil apareceu na 54ª posição a partir da análise de três componentes: o tecnológico, o do funcionamento das instituições e o macroeconômico. "A decomposição do índice global mostra que o declínio no ranking para o Brasil foi principalmente devido à deterioração do componente macroeconômico", ressalta a nota. "De fato, enquanto o Brasil é tradicionalmente classificado entre 40º e 60º para a maioria das variáveis, o país obteve classificação de 75º no índice macroeconômico. Obviamente, o baixo crescimento de 2003 (queda de 0,2% do Produto Interno Bruto) ajuda a explicar esse resultado", esclarece o documento da Fazenda. A partir daí, a secretaria do Tesouro faz um exercício de aproximação. Ela pondera que, se o Brasil tivesse recebido a 55ª classificação no índice para a macroeconomia, obtendo uma pontuação entre 3,70 e 3,75, o índice geral do país cresceria de 3,95 para 4,15. "Em termos de ranking, o ajuste para um escore de 4,15 implicaria a passagem da 54ª posição para a 45ª . Isto é, não haveria queda no ranking em comparação ao relatório de 2003", conclui o documento. Apesar do resultado global negativo, Levy ressaltou pontos favoráveis no levantamento do WEF. Um deles é a posição de destaque concedida ao Brasil na questão tecnológica. "Isso pode ser surpreendente para alguns", avalia o governo no texto. "Entretanto, aqueles que conhecem melhor o país sabem, por exemplo, que o Brasil é um dos poucos países capazes de desenvolver e construir aeronaves e que possui tecnologia de ponta em pesquisa e produção de petróleo", prossegue o documento. Em relação à "mensagem da pesquisa da A.T. Kearney", Levy destacou que ela mostra a continuidade do declínio no fluxo dos investimentos estrangeiros diretos (IED) mundial desde o pico ocorrido em 1999 e 2000. "Logo, a queda observada no fluxo para o Brasil, em parte associada ao fim do ciclo das privatizações dos anos 90, não está fora da sincronia com o que vem ocorrendo em outras partes do mundo". Na análise dessa consultoria, o Brasil caiu da 9ª em 2003 para a 17ª posição este ano entre os países com melhores índices de confiança para receber investimentos internacionais. É analisada uma série de indicadores e riscos para se chegar a esse resultado. "O grande peso atribuído às questões de segurança ajudou a erguer os países da OCDE no ranking e a explicar, em parte, a mudança da posição brasileira", diz a nota.