Título: Requião condiciona apoio à mudança de rota na Fazenda
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Política, p. A6

Aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2002, o governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), está hoje em posição isolada dentro do partido. Não trabalha junto com os governistas para levar a sigla a apoiar a reeleição do presidente e nem se entusiasma com o projeto da candidatura própria, para o qual o candidato com mais chances eleitorais é o ex-governador do Rio Anthony Garotinho. Seu discurso está mais próximo do da chamada esquerda petista. "O PT ainda é o partido mais sério do País, mas o governo está na contramão daquilo que a gente imaginou. Não sei ficar em cima do muro, sou lulista. Mas estou com um PT que está insatisfeito", afirmou o pemedebista. De acordo com Requião, o partido deveria estar fora da equipe de Lula e investir na elaboração de um programa de governo para uma candidatura em 2006. Caberia então a Lula aderir ou não a este programa. "O partido existe para lançar candidato em qualquer circunstância, mas não está proibido de compor". Requião descarta a possibilidade de se apresentar como pré-candidato, tal como fez em 1998, quando disputou a indicação com Itamar Franco e José Sarney contra a ala que queria o apoio à reeleição de Fernando Henrique e o partido terminou sem tomar decisão. "Não tenho bala na agulha", resumiu. O governador paranaense acredita que a raiz da crise política que abala o governo Lula no Congresso está na manutenção da orientação econômica que predominou nos governos Collor e Fernando Henrique. "Só se vota contra tudo que o País acredita, se existir mensalão ou coisas assemelhadas. Como defender de outra forma um modelo que prega tal superávit primário e a lei de proteção de patentes? Ninguém no Congresso se acredita canalha. Há uma maioria desideologizada que vota a favor do governo em políticas de apelo popular. Mas por que alguém iria se motivar a votar nesta agenda que o modelo econômico impôs? Só por troca de favores". Segundo o governador, "é um desvio de foco instalar CPI para procurar quem recebeu. A essência seria procurar quem propicia o recebimento",disse. O governador pemedebista é cético sobre a possibilidade do governo mudar o rumo diante da crise política e cita como exemplo a nomeação do economista Marcos Lisboa para a presidência do Instituto de Resseguros do Brasil ( IRB-Re). " O que vai acontecer é a privatização do IRB, que é uma patifaria", disse. Requião é cético também sobre a possibilidade da CPI comprometer a continuidade do governo. "Ninguém acredita que o Lula esteja pessoalmente envolvido. Ele é honesto. Tudo o que tem é um sítio onde cria coelhos", afirmou. Ao avaliar o governo federal, Requião faz duas ressalvas positivas. Elogia a gestão da ministra das Minas e Energia, Dilma Roussef, por ter brecado o processo de privatizações e a política social do governo. " Aquilo que a mídia mais ataca é o que eu aprovo. E o grande problema do governo é aquilo que dizem que está dando certo. O Lula vai se sustentar no interior do País com a Bolsa Família. Mas a política econômica impõe a corrupção no Congresso. Não é uma coisa deste governo, vem de há muito tempo. Está se transformando em direito consuetudinário", afirmou.