Título: PMDB hesita em ser fiador do governo
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Política, p. A6

Crise Resistência do governo em ceder poder ao partido leva pemedebistas à "crise de confiabilidade"

É pouco provável, mas o PMDB efetivamente avalia a possibilidade de vir a desempenhar, no governo Lula, o papel que o PFL desempenhou em 1992 para o governo Collor: acossado pela CPI de PC Farias, o ex-presidente Fernando Collor de Mello tentou se recompor politicamente no Congresso entregando uma boa fatia do poder aos pefelistas, a começar pela coordenação política, para a qual nomeou o senador Jorge Bornhausen (SC), atual presidente da sigla. Há duas grandes dificuldades, segundo dirigentes que participaram de todas as conversas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o ministro José Dirceu (Casa Civil). A primeira seria a "crise de confiabilidade" que se instalou no PMDB após o governo não dar conseqüência às negociações de março. A segunda, e talvez mais importante, é o PT. Collor não tinha um partido, muito menos um partido ideológico. Durante as negociações com o Planalto, dirigentes do PMDB chegaram a vislumbrar a hipótese de, enfim, unir o partido. Lula e Dirceu conversaram com todas as correntes do PMDB: além de Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP), houve reuniões também com a ala oposicionista de Geddel Vieira Lima (BA) e Eliseu Padilha e até de setores ligados ao ex-governador Anthony Garotinho (RJ), por meio do deputado Saraiva Felipe (RJ). A idéia era que todas as áreas da sigla fossem contempladas. Lula, como se sabe, resolveu suspender a reforma ministerial após um ultimato dado pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) para que seu afilhado político Ciro Nogueira (PP-PI) fosse nomeado para o Ministério das Comunicações. No PMDB, deixou um rastro de insatisfação: Sarney está agastado por Roseana Sarney (PFL-MA) ter sido chamada, mas não nomeada, Calheiros, que avalizou Roseana para retribuir o apoio recebido de Sarney na eleição para a presidência do Senado, também não gostou nada. "Existe uma grande desconfiança em relação a uma composição com o governo. É um problema de confiabilidade. De qualquer forma, há as duas apostas no PMDB", explica um dirigentes que participou ativamente das conversas PMDB-Planalto. "Não entenderam a necessidade de um governo de coalizão". Um casamento agora, diz esse dirigente, "só com cláusula de comunhão de bens". O PMDB culpa o PT pelas dificuldades de Lula para operacionalizar um acordo. Severino teria sido apenas um pretexto. O partido do presidente é que não teria se disposto a ceder espaços, ao contrário do que afirmava em público, para permitir a Lula a efetiva formação de um governo de coalizão, já que o próprio presidente sempre demonstrou entusiasmo com a proposta. Agora, mais dia menos dia Lula terá de mudar o governo, segundo a avaliação pemedebista. A diferença é que fará no meio de uma crise, com a posição fragilizada. A outra aposta a que se refere o dirigente pemedebista é a candidatura própria, até porque cresce na cúpula do PMDB a desconfiança de que Lula pode não se candidatar à reeleição, sobretudo se perceber que pode perder a disputa. É uma ameaça recorrente que o presidente faz ao PT. Neste caso, no entanto, o nome cogitado entre os caciques que comandam o partido não é o do ex-governador Garotinho, mas o do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim. O ministro é um quadro histórico do PMDB, que se licenciou ao ser nomeado para o STF. Jobim também é considerado uma opção para a Vice de Lula, na eventualidade de sair a coalizão. Para se candidatar, o ministro teria de antecipar sua aposentadoria no STF - ele cai na compulsória apenas em 2016. Além de Garotinho, outros pemedebistas passaram a cobiçar a indicação do partido em 2006. Entre eles, o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, e o do Paraná, Roberto Requião. O nome de Jarbas Vasconcelos também é avaliado, mas desta vez o problema de "confiança" é do governador de Pernambuco, que desconfia de boa parcela do partido ao qual sempre esteve filiado. A evolução da crise definirá o futuro do PMDB.