Título: Governo teme que derrotas retomem críticas ao desempenho de Palocci
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2004, Política, p. A-5

A perspectiva de derrota eleitoral em São Paulo e em Porto Alegre já está reacendendo, dentro do governo Lula, as críticas à política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Nos últimos dias, alguns assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva começaram a atribuir os possíveis fracassos nessas duas capitais à ortodoxia das políticas de Palocci. "A avaliação é a de que o PT vai creditar as derrotas de Marta Suplicy e Raul Pont (candidatos, respectivamente, em São Paulo e Porto Alegre) a problemas da economia. Essa avaliação já está sendo feita por pessoas que sempre conviveram mal com a política econômica", comentou um colaborador do presidente. O Palácio do Planalto já atribui a essa insatisfação, que sempre existiu mas que perdeu força desde meados do ano, quando a economia começou a dar fortes sinais de expansão, a piora do ambiente econômico nos últimos dias. Como acontece freqüentemente nesses momentos, surgiram boatos de demissão do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Em conseqüência disso, o risco-país, que mede o custo do crédito ao país, cresceu. "Os ataques à política econômica vão voltar depois da eleição ou até um pouco antes, se já ficar claro na próxima semana que os candidatos petistas vão perder a eleição nos principais centros", previu uma fonte da área econômica. As pesquisas mostram que dificilmente os candidatos do PT reverterão a diferença que os separa hoje dos líderes das intenções de voto em São Paulo, Porto Alegre e Curitiba, outra cidade vista pelo PT como estratégica para a expansão do partido em 2004. Na capital paulista, segundo a última pesquisa do Ibope, a prefeita Marta Suplicy está 13 pontos percentuais atrás de José Serra, o candidato do PSDB. Pelo Datafolha, a diferença é parecida: 12 pontos. Na capital gaúcha, o candidato do PPS, José Fogaça, tem, segundo o Ibope, 12 pontos percentuais de dianteira em relação ao prefeito Raul Pont. Dentro do governo e do próprio PT, essas diferenças são consideradas muito difíceis de serem revertidas. Confirmando-se a derrota, o governo espera uma reação mais contundente, com críticas à política econômica, dos petistas do Rio Grande do Sul. Na opinião de auxiliares do presidente, um possível fracasso de Raul Pont em Porto Alegre, cidade que o PT governa há 16 anos, não pode ser debitada na conta do governo federal. Lá, explicou um assessor, há uma "crise hegemônica". "Formou-se uma espécie de Frente anti-PT, fruto do desgaste natural dos 16 anos de governo", explicou um assessor. No caso de São Paulo, não se espera uma reação forte por parte da prefeita Marta Suplicy, que é muito ligada ao presidente Lula - responsável por sua entrada na política - e uma forte aliada do ministro Palocci. Na capital paulista, o "fogo amigo", como definem alguns assessores de Lula os ataques à política econômica, virá dos dirigentes locais e nacionais do PT - a exceção deverá ser o presidente da sigla, José Genoino, que tem atuado com lealdade ao presidente. Para esses dirigentes, o desempenho de Marta sempre esteve muito ligado ao de Lula. No início do ano, com o governo ainda colhendo os maus resultados da economia no primeiro ano da gestão do presidente, a executiva nacional do PT chegou a criticar abertamente a política econômica. Quando a economia começou a se recuperar, em maio, os petistas silenciaram. Depois, com a recuperação do PIB e dos empregos, Genoino chegou a dizer que a oposição perdeu o discurso e, por isso, estava "nervosa". Agora, com a perspectiva da derrota eleitoral, a tendência é que os dirigentes voltem a acusar a política econômica de desgastar as candidaturas do PT nos grandes centros, onde a recuperação do emprego, iniciada pela retomada da economia, tem sido mais lenta, se comparada à situação no interior do país. Na avaliação do Palácio do Planalto, a prefeita Marta Suplicy fez uma excelente administração, reconhecida pela população - a maioria aprova a sua gestão -, mas não conseguiu transformar isso em votos. O governo acha que a gestão de Marta tem problemas de comunicação e que a prefeita construiu uma imagem pessoal negativa. Acredita ainda que ela cometeu um erro ao recusar uma aliança com o PMDB, insistindo no lançamento de uma chapa "puro-sangue" do PT. Na opinião de um ministro com trânsito no Palácio do Planalto, no caso de derrota em São Paulo, além das críticas à política econômica, o PT passará por um processo doloroso de ajuste interno. O fracasso de Marta, além de embaralhar ainda mais o quadro de pretensões eleitorais para a disputa do governo paulista em 2006, poderá ter impacto sobre o próprio rearranjo do governo Lula, que promoverá uma nova reforma ministerial antes do fim do ano.