Título: Disputa de cargos adia instalação de CPI
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Política, p. A7

Crise PMDB coloca obstáculos a acordo entre governo e oposição para a nomeação de presidente e relator

A sessão de instalação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios (CPI) ontem foi a primeira demonstração de que a disputa de forças entre governo e oposição será longa e intensa durante os meses em que serão investigados supostos esquemas de corrupção em licitações na empresa envolvendo funcionários indicados por partidos políticos. Não foi possível um acordo para escolher os postos-chave da CPI: presidente e relator. Uma nova sessão foi marcada para terça-feira. A sessão, que começou às 16h42, chegou a ser suspensa por uma hora para tentativa de acordo, mas foi retomada por volta das 19h sem nenhuma evolução no diálogo. O governo, que tem maioria na comissão (19 dos 32 integrantes), pretendia controlar a CPI e eleger um petista para a presidência e um pemedebista para a relatoria, mas recuou. O bloco da minoria PFL/PSDB no Senado exigia ter pelo menos uma das vagas, alegando que, pela tradição, as maiores bancadas de cada Casa teriam direito a fazer as indicações. Juntos, PFL e PSDB têm 29 senadores. O PMDB, isoladamente, é a maior bancada, com 23 senadores. Na Câmara, o PT é a maior bancada. Em acordos anteriores para duas CPIs Mistas - do Banestado e da Terra -, governo e oposição fizeram rodízios para ocupar as presidências e relatorias. Agora, o governo alega que a formação de bloco não deve ser considerada na hora da escolha. "Nós ainda queremos buscar um entendimento, senão fica parecendo uma coisa chapa-branca", admitiu o líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), que defende o acordo com a oposição. Apesar da aparente impossibilidade de acordo, dois fatores pesaram para o adiamento da escolha: o temor de que novas denúncias de corrupção no Executivo possam vir à tona no fim de semana e o receio do governo com uma repercussão negativa na opinião pública com a tentativa de controle da CPI. Há um segmento da base aliada que defende um acordo com a oposição, mas o PMDB seria um obstáculo. O partido pressiona o governo a controlar parte da CPI porque teme a extensão das investigações. Políticos do partido são responsáveis por algumas indicações de dirigentes nos Correios. Minutos antes da sessão de ontem, os governistas já tinham os nomes dos candidatos: senador Delcídio Amaral para a presidência e deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) para a relatoria. Os candidatos mudaram ao longo do dia, por temor do governo com a repercussão negativa da estratégia. O primeiro cogitado para a presidência era do senador Luiz Otávio (PMDB-PA), cujo nome já foi envolvido anteriormente em supostas denúncias de corrupção. A oposição apresentou o nome do senador César Borges (PFL-BA) para ocupar um dos postos. Antes da sessão, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), procurou os oposicionistas para tentar uma acordo. O governo queria que o PFL indicasse o senador Edison Lobão (MA), ligado a José Sarney (PMDB-AP), para a presidência. Os pefelistas rejeitaram. Mercadante, ontem, acirrou os ânimos durante a sessão ao afirmar que César Borges não tinha "vivência sob o ponto de vista regimental", pois estava no primeiro mandato. Delcídio Amaral, o escolhido do PT, também é iniciante na política. Ofendido, o PFL agora não admite mais substituir a indicação de Borges por outro nome. Enquanto a disputa parece sem solução, os governistas já deixaram claro pelo menos uma estratégia: "Vamos investigar para valer os Correios, todos os contratos e licitações. Será uma investigação ampla, sem investigar só o período recente", enfatizou Mercadante.