Título: Cautela tucana leva PFL a assumir dianteira na investigação de denúncias
Autor: Henrique Gomes Batista e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Política, p. A8

Em reunião da Executiva Nacional, o PFL decidiu manter uma postura mais agressiva que a dos tucanos na investigação da CPI dos Correios. "Esquece o PSDB, vamos fazer a nossa estratégia", disse o presidente da sigla, senador Jorge Bornhausen (SC), ao ser indagado sobre a posição do PSDB, que inclusive apoiou o voto do relator Inaldo Leitão (PL-PB), na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, no sentido de restringir o foco da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito instalada ontem. O PFL, no entanto, recuou no que se refere ao pedido de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, movimento que chegou a ser ensaiado na semana passada. A postura mais cautelosa adotada pelos tucanos deve-se ao fato de a cúpula do PMDB julgar que é melhor ter um Lula desgastado do que o impeachment, o que criaria uma situação de incertezas e de ressentimento político que ninguém sabe no que iria dar, segundo um dirigente partidário A executiva do PFL decidiu quatro ações, uma delas teatral: o partido pediu proteção policial para o presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), autor da denúncia de que deputados do PP e PL receberiam uma "mesada" paga pelo PT. As outras três foram: exigir o cargo de relator da CPI dos Correios, pedir a auto-convocação do Congresso em julho e entrar com uma notícia-crime contra o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, na Justiça, por conta da entrevista de Jefferson sobre o mensalão - Delúbio Soares, segundo o petebista, é quem teria armado o esquema. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou às 23h40 de quarta-feira o recurso que limitou o foco da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Correios às denúncias de esquema de corrupção na estatal. O governo saiu vitorioso da votação - parlamentares da base aliada temiam que as apurações pudessem atingir todas as empresas públicas federais - e expôs uma divisão de atuação nos dois maiores partidos de oposição: PFL e PSDB. O PFL, encabeçado por Antonio Carlos Magalhães Neto (BA) passou toda quarta-feira tentando postergar a apreciação do recurso contra a CPI e que causou a limitação do foco das investigações. Nas duas sessões da CCJ de quarta-feira, o partido conseguiu adiar a votação por mais de dez horas. O PSDB, por sua vez, no início da manhã, já tinha decidido que apoiaria a tese de se limitar a atuação da CPI. Tal divergência expôs posturas diferentes dos partidos. De acordo com deputados de ambos os partidos, PSDB e PFL tinham feito um acordo para manter a obstrução na CCJ ou, se mudassem de atitude, que fariam juntos. O PSDB, logo no início do dia, preferiu apoiar o recurso. "O PSDB é um partido e o PFL é outro, somos diferentes e temos estratégias diferentes, construímos a CPI juntos e o governo já estava derrotado, não havia motivos para continuar brigando na CCJ", afirmou Jutahy Júnior (PSDB-BA). Desde segunda-feira, quando ficou conhecida a denúncia do pagamento de mensalidades de deputados para apoiarem o governo, o PSDB, sob influência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, adotou um tom de cautela, evitando envolver o presidente Lula no rol dos prováveis responsáveis pela suposta irregularidade. "Estamos no meio de uma crise institucional e proponho a Lula criar um governo de salvação nacional", disse o líder da sigla, Alberto Goldman (SP). Já o PFL, desde o início, tentou envolver Lula nas denúncias. "Isso não é uma crise institucional, é uma crise de governo", disse José Carlos Aleluia (BA). "Se o presidente estiver envolvido nas denúncias não teremos medo de pedir uma ação por responsabilidade", afirmou o líder da bancada, Rodrigo Maia (RJ). Ontem, o prefeito do Rio, Cesar Maia, defendeu que o foco da investigação seja o Executivo e não o Legislativo. "Não temos que nos preocupar com isso, continuamos unidos", afirmou ACM Neto.