Título: Lula deve pedir a Delúbio que se licencie do cargo
Autor: Raymundo Costa e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Política, p. A10

Crise Tesoureiro condiciona afastamento a um pedido do presidente

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve pedir que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, se licencie do cargo que ocupa no partido, pelo menos até que se encerrem as investigações das denúncias feitas pelo presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson, segundo as quais ele seria responsável por um esquema de pagamento de "mesadas" a deputados do PP e PL. O pedido de Lula é uma condição do próprio Delúbio. Isso porque, no fim do ano passado, o tesoureiro do PT havia decidido se afastar, mas ficou a pedido do próprio presidente da República. Delúbio concordou, mas acertou que não integraria a nova direção do PT, a ser eleita em novembro. A situação de Delúbio dividiu o chamado "campo majoritário", união de tendências que comanda o PT. No momento de maior fragilidade política do governo, o PT talvez enfrente, segundo os próprios integrantes do partido, a mais grave divisão interna. Não há pensamento uniforme nem no campo majoritário nem nas alas da esquerda partidária. A situação de esgarçamento é tão profunda que os petistas já admitem trabalhar pelo adiamento do Processo de Eleições Diretas (PED), marcado para setembro. Pela tradição petista, todos os dirigentes nacionais, estaduais e municipais são escolhidos por cerca de 810 mil filiados. O atual presidente do partido, José Genoino, é candidato à reeleição. A divisão petista ficou ainda mais explícita diante da decisão de Delúbio Soares em se manter no cargo. Ele permanece com a anuência da Executiva Nacional do PT. A decisão, no entanto, não foi tranqüila, e acirrou ainda mais os ânimos. Boa parte da cúpula do PT, ligada ao Palácio do Planalto, considera que o melhor para o governo e para o partido seria o afastamento de Delúbio. A saída de Delúbio dividiu inclusive os "ministros da casa", como são chamados aqueles que trabalham no Palácio do Planalto: Luiz Dulci (Secretário Geral da Presidência), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social) defenderam o afastamento do tesoureiro, posição só agora assumida por José Dirceu (Casa Civil). Lula havia pedido "tranqüilidade" a Delúbio, reiterado a confiança que tem no amigo e foi quem sugeriu que ele deveria dar entrevista se defendendo. Mas foi convencido pelos ministros que o melhor é ele se afastar. "Atingir o Delúbio é o mesmo que atingir o Lula, porque é ele que foi o coordenador da campanha presidencial", pondera um petista do campo majoritário. Segundo ele, a situação é delicada porque envolve não apenas componentes políticos e partidários, mas pessoais. "Não se pode ter um juízo precipitado sobre essa denúncia antes que todos tenham a oportunidade de prestar esclarecimentos. Tanto o PT quanto o Delúbio sustentam internamente que a denúncia é falsa", acrescenta a mesma fonte. Para parte da esquerda petista, não há razão para tirar Delúbio do posto se o presidente Lula mantém a seu lado pessoas também sob suspeita, como o ministro Romero Jucá (Previdência Social). Outros acham que é melhor o circo pegar fogo para que o campo majoritário do partido se enfraqueça de vez. Entre os que controlam hoje o PT também há divergências.