Título: Poupança perde para inflação
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 08/04/2010, Economia, p. 20

Principal modalidade de aplicação, a caderneta rendeu apenas 1,74% no primeiro trimestre contra 2% do IPCA

Opção de primeira hora dos investidores mais conservadores, a caderneta de poupança não respondeu a contento no primeiro trimestre. Com rendimento acumulado no período de 1,74% (nas contas com vencimento no dia 1°), a mais tradicional modalidade de aplicação do mercado perdeu para a inflação do período medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e deverá cravar 2,03%, segundo projeções do Banco Santander. Na média, também os fundos de ações, com ganho de 1,89%, deixaram a desejar.

Já os fundos de investimento de renda fixa, que competem com a caderneta, praticamente empataram com o IPCA, com alta de 2,02% entre janeiro e março. O Ibovespa, principal índice de lucratividade da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), computou alta de 2,6%. Mas, como bem ressaltou Eduardo Glitz, sócio da XP Gestão de Recursos, o mercado acionário é indicado apenas para os investidores mais experientes, que sabem exatamente os riscos que estão correndo.

DI em baixa O baixo rendimento da poupança não diminuiu, porém, o ânimo dos investidores. A caderneta teve o melhor primeiro trimestre dos últimos 13 anos em termos de captação de recursos. Os depósitos superaram os saques em R$ 4,24 bilhões. Somente em março, o saldo da poupança ficou positivo em R$ 538 milhões, conforme informou ontem o Banco Central. No mesmo mês de 2009, a caderneta registrou perdas de R$ 846,8 milhões, pois boa parte dos brasileiros foi obrigada a recorrer às economias para fechar o orçamento doméstico impactado pela crise mundial. Naquele período, o desemprego deu um grande salto.

Atualmente, o quadro é completamente outro, pois, com a renda em alta e oferta maior de emprego, as famílias estão conseguindo economizar. Tanto que, no conjunto, os fundos de investimentos computaram captação líquida no primeiro trimestre de R$ 22,99 bilhões, dos quais R$ 5,81 bilhões apenas no mês passado. Do total do trimestre, os fundos de renda fixa ficaram com R$ 21,67 bilhões (R$ 5,57 bilhões em março). Houve, porém, perda de recursos nos fundos DI: de R$ 4,10 bilhões no trimestre e de R$ 858 milhões em março.

Educação é fundamental

Apesar de não pagar rendimentos elevados e de haver outras opções aos mais conservadores, a opção pela caderneta de poupança tem a ver com comodidade e segurança, disse Eduardo Glitz, sócio da XP Gestão de Recursos. Com taxas de administração mais baixas, em média entre 0,5% a 1%, os fundos de renda fixa são uma boa alternativa de investimento à poupança, afirmou. Segundo ele, muitos fundos aceitam hoje investidores que dispõem de poucos recursos mensais. Bastam somente R$ 100 por mês para fazer esse tipo de aplicação.

Para Glitz, a busca por melhor rentabilidade está atraindo investidores não tradicionais até mesmo para o mercado de ações, mais arriscado. Com a taxa de juros em queda, ninguém consegue mais garantir ganho de 1% ao mês em investimentos de baixo risco. Mas é preciso todo cuidado com a bolsa de valores, avisou. Ele ressaltou ainda que, nesse cenário, é muito importante a educação financeira dos poupadores. (VC)