Título: No Peru, Toledo sobrevive a crises
Autor: The Economist
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Internacional, p. A11

América Latina Mesmo impopular, presidente vai além de seus pares na Bolívia e no Equador

Ele é há muito tempo o mais impopular presidente latino-americano e seus percentuais de aprovação em pesquisas de opinião desde 2003 têm oscilado de 8% a 14%. Nos últimos dois meses, governantes menos odiados foram derrubados por protestos nos vizinhos Equador e Bolívia. No Peru, porém, Alejandro Toledo não apenas sobrevive. Ele recém-encerrou um animado giro de 15 dias pelo Oriente Médio e pela China. No mês passado, o Congresso peruano decidiu não iniciar uma investigação visando um possível impeachment relacionado a alegações de que o partido de Toledo teria falsificado assinaturas para se registrar como candidato numa eleição em 2000. Seu governo também conseguiu obter um pedido de desculpas do Chile por esse país ter vendido armas para ajudar o Equador a iniciar uma breve guerra fronteiriça com o Peru em 1995. Essas vitórias reforçam a convicção da maioria dos analistas de que Toledo sobreviverá até o fim de seu mandato em julho de 2006. Isso nem sempre pareceu provável. Acusações de corrupção pairaram em torno de sua presidência. O ex-advogado e chefe do serviço de informação de Toledo está na cadeia devido a acusações envolvendo suborno. Diariamente, o presidente é alvo de zombaria na intensamente sectária mídia limenha. Pesquisas revelam que a maioria dos peruanos acham que o país está no caminho errado. Assim sendo, por que é que Toledo sobreviveu? Em primeiríssimo lugar, porque ele presidiu durante um período de quatro anos de crescimento econômico - em média, de 4,8% ao ano. A inflação está em baixa, a moeda está registrando uma valorização, as exportações estão em expansão acelerada e muitos cidadãos comuns peruanos estão começando a se sentir um pouco melhor. Em segundo lugar, no Peru, um país maior, os movimentos sociais são mais dispersos e menos radicais do que na Bolívia e no Equador. Cerca de 45% dos peruanos é descendente de índios andinos (inclusive o próprio Toledo). Mas os peruanos, em sua maioria, consideram-se "mestizos". De 1990 a 2003, os indígenas peruanos foram alvo de uma perversa insurgência maoísta e da repressão a ela. A lembrança aconselha cautela. Em terceiro lugar, quando se defrontou com grandes protestos, Toledo recuou. Ele desistiu da privatização de duas companhias de eletricidade. Quando seus correligionários pressionaram por mais cargos governamentais, ele removeu diversos tecnocratas de seu gabinete em favor de quadros do partido. Em comparação com seus vizinhos, Toledo teve também mais sorte com a oposição. Tendo retornado à democracia em 2001, depois de uma década do autoritário (e corrupto) governo de Alberto Fujimori, a maioria dos políticos peruanos mostrou-se relutante em colocá-la em risco. Apenas uns poucos oposicionistas persistentes insistiram em buscar o impeachment de Toledo. O populista Alan García, um ex- (e, novamente, possível futuro) presidente, foi o que chegou mais perto. Ele apoiou uma greve geral no ano passado. A greve fracassou e García sumiu nas pesquisas de intenção de voto. Agora, sem dúvida para alívio de Toledo, os políticos estão de olho na eleição presidencial de abril.