Título: Governo monta gabinete de crise para acompanhar escassez de gás da Bolívia
Autor: Leila Coimbra
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Especial, p. A14

O governo brasileiro montou ontem um gabinete de crise na Petrobras para desenhar um plano de contingência nacional para gerenciar os efeitos da convulsão social e política da Bolívia sobre o mercado energético brasileiro, que está sob a ameaça de corte do fornecimento de 24 milhões de metros cúbicos de gás importados diariamente do país vizinho. Ao mesmo tempo em que o diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, admitia ontem de manhã, pela primeira vez, a possibilidade real de suspender a produção de gás natural na Bolívia e as importações para o Brasil dentro de seis a sete dias, o Ministério de Minas e Energia (MME) e a estatal garantiram que o abastecimento de gás de cozinha (GLP) e gás natural canalizado para uso residencial está assegurado. Em comunicado conjunto, o governo informa que o plano de contingência que está sendo elaborado prevê a utilização de combustíveis substitutos "como uma das principais alternativas para gerenciar uma situação temporária de redução no fornecimento do insumo". E que o contingenciamento já tinha começado nas refinarias da Petrobras e estendido para as termoelétricas, que vão usar combustível substituto, ou seja, óleo. A reunião foi comandada pela ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, com a presença da secretária de Gás e Petróleo, Maria das Graças Foster, do presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, além de técnicos de diversos áreas da estatal. Também foram convocados os presidentes de grandes distribuidoras como a paulista Comgás , a fluminense CEG, a mineira Gasmig e distribuidoras da região sul e do Mato Grosso, todos convocados às pressas na quarta, segundo o presidente da Associação Brasileira das Distribuidoras de Gás (Abegás), Romero de Oliveira e Silva. Também participaram da reunião executivos das empresas Repsol e Total, grandes produtoras de gás na Bolívia e sócias da Petrobras nos campos de San Alberto e San Antonio, os maiores daquele país. Durante cerimônia de entrega da plataforma P-47, ontem de manhã, Nestor Cerveró, da Petrobras, admitiu que a crise no sistema de transporte de combustíveis líquidos na Bolívia começará a afetar o Brasil dentro de uma semana, caso persista. O mercado, porém, prevê que o fornecimento entre em colapso no fim de semana, quando começariam a ser exportados apenas metade da média de 24 milhões trazidos diariamente. O diretor internacional da Petrobras disse que a importação de gás poderá ser reduzida mas não paralisada, lembrando que nem todo o gás importado vem dos campos na Bolívia. Já o tamanho do freio dependerá do nível de produção de gás nos campos bolivianos e de como a estatal conseguirá gerenciar o excesso de líquidos nos seus dutos e refinarias localizados no país. Apesar de admitir a crise, Cerveró disse que por enquanto a estatal não planeja retirar os 30 brasileiros que formam o contingente de 1.930 funcionários da Petrobras Bolívia (PEB). Ele também disse que o consumo de gás natural veicular (GNV) é pequeno e que por isso o fornecimento não deve ser atingido. Já o diretor financeiro da companhia, José Sérgio Gabrielli, admitiu que o gás da Bolívia, devido a seu volume, "dificilmente é substituível", frisando que a empresa quer evitar alarmar a população "para uma situação que pode não acontecer". O secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, prevê que a Petrobras terá que implementar plano de redução da queima de gás, que só na bacia de Campos foi de 3,6 milhões de metros cúbicos/dia em março, aumentando as transferência para o continente e reduzir a oferta de gás para térmicas e co-geração.