Título: Observadores internacionais chegam ao país
Autor: Leila Coimbra
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Especial, p. A14

A crise na Bolívia acendeu o "sinal amarelo" no governo brasileiro, e é real o risco de colapso "muito em breve" no abastecimento de gás fornecido pelos bolivianos aos países da região, informou ao Valor o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia. Ele viajou ontem à Bolívia, a pedido do presidente demissionário, Carlos Mesa, que também pediu ao governo argentino e à ONU que enviassem missão de observadores. O governo teme problemas no abastecimento porque a greve de trabalhadores no país dificulta a separação do gás e outros produtos de petróleo extraídos das reservas bolivianas. O antagonismo entre grupos indígenas e a elite de ascendência européia tornam mais difícil encontrar uma solução de compromisso para a crise. Em Santa Cruz de la Sierra, Garcia deverá encontrar o cardeal-arcebispo Júlio Terrazas Sandoval, que se ofereceu para fazer a mediação entre as forças políticas em conflito no país. Deve se reunir também com o emissário da Argentina, o vice-chanceler Raúl Alconada Sempé. Ambos decidiriam partir para a capital administrativa, Sucre, onde os legisladores decidirão sobre a renúncia de Mesa. Em Sucre, a missão deve receber o reforço do enviado da ONU, José Antônio Ocampo (segundo versões locais, Mesa recusou a ajuda da Organização dos Estados Americanos para evitar a intervenção do secretário-geral José Miguel Insulza, que apesar de respeitado é natural do Chile, com o qual a Bolívia tem séria disputa territorial). O Brasil já discute esquemas para evacuar cidadãos brasileiros em caso de agravamento da crise, com aumento da violência nas ruas, admitiu o ministro, que defendeu "cautela" na discussão. Há entre 6 mil a 10 mil brasileiros na Bolívia, onde também é grande o número de estudantes originado do Brasil.