Título: Fabricantes temem desabastecimento
Autor: Leila Coimbra
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Especial, p. A14

A indústria da região sul do Brasil se mostrou ontem preocupada com o possível desabastecimento de gás natural devido à crise boliviana. Em Santa Catarina, Estado que concentra grandes indústrias como Eliane, Portobello e Cecrisa, as empresas têm mantido conversações com a SCGás, que em nota afirmou que o desabastecimento por enquanto é especulativo. Em caso de falta do gás natural, o setor cerâmico, consumidor de cerca de 60% do gás que é distribuído em Santa Catarina, teria como alternativa o uso do GLP (gás liquefeito de petróleo) e do carvão mineral, mas as empresas não se mostram favoráveis a esses processos hoje pois envolveriam novos investimentos e de forma muito rápida. O presidente do sindicato das indústrias cerâmicas de Santa Catarina, Luiz Alexandre Zugno, diz que o uso do GLP, abandonado no início dos anos 90 quando a oferta do gás natural foi atrativa para as indústrias, seria uma volta ao passado. As empresas teriam que ainda possuir tanques de armazenamento, que foram desativados com a vinda do gás natural, ou deixar um caminhão de GLP estacionado nas unidades para o abastecimento. O carvão mineral também poderia ser um substituto, mas, diz ele, não facilmente serviria em todos os equipamentos. Em Campo Largo, cidade paranaense tida como a capital brasileira da louça, o gás é o principal insumo da indústria e representa 30% dos custos. Se faltar, o prejuízo será maior do que a interrupção da produção de nove empresas, como Incepa, Schmidt e Germer. Os fornos precisam ser mantidos quentes porque, quando esfriam, dilatam e precisa ser reformados. O presidente do Sindilouça, José Canisso, conta que a preocupação é antiga e surgiu já em 2000, quando os fabricantes passaram a usar o gás boliviano. "Sempre nos perguntamos: e se tiver uma crise na Bolívia? Agora estamos com o problema na mão." Segundo ele, a indústria cobrou muitas vezes da Petrobras um plano emergencial, como a criação de uma rede interligada, semelhante à do sistema elétrico, para que uma região pudesse abastecer a outra em caso de falta do produto. Canisso disse que as nove empresas empregam 8 mil pessoas e usam cerca de 75% do gás fornecido pela Companhia Paranaense de Gás (Compagás). Empresas paulistas procuradas pelo Valor, como Ford, GM e Ambev, não quiseram dar entrevistas.