Título: Brasil foi 'amador', critica secretário
Autor: Leila Coimbra
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Especial, p. A14

O secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, criticou a forma como o governo brasileiro vem tratando a crise política e econômica da Bolívia. Para ele, a questão está sendo conduzida de forma amadora. "Não se deve tratar de maneira diplomática uma questão técnica e de segurança nacional como essa do gás. O problema na Bolívia não é só uma crise interna, e sim a crise interna de um país que vai afetar a segurança do nosso abastecimento, atingindo cidades como São Paulo", disse Victer, depois de participar da cerimônia de entrega da plataforma P-47, da Petrobras. Ele também alertou o governo sobre o fato de nenhum plano de contingência poder ser definido com as empresas distribuidoras sem a aprovação dos Estados, já que a distribuição de gás é uma concessão estadual garantida pela Constituição. "As distribuidoras não podem assumir compromisso com o governo federal porque estão subordinadas ao poder concedente estadual", disse o secretário. O diretor de exploração e produção da Petrobras, Guilherme Estrella, garantiu que a estatal já estuda plano alternativo de abastecimento de gás para o Brasil, caso a crise na Bolívia perdure por mais dias. De acordo com ele, a Petrobras trabalha com diversos cenários para o abastecimento de gás no mercado. O diretor não quis informar, no entanto, quais seriam esses cenários. "A empresa está preparada para fazer o possível para atenuar qualquer tipo de situação", disse o diretor, que participou ontem da inauguração do primeiro bloco do casco da plataforma P-51. Na avaliação de Estrella, foi um "erro estratégico" o Brasil depender tanto do gás boliviano. Segundo o diretor, o gás é um insumo muito importante para que o país esteja tão dependente de importações. "Foi um erro de estratégia (a decisão de colocar no suprimento energético brasileiro um insumo como o gás). Estamos hoje tratando de uma situação decorrente de uma decisão que foi tomada há décadas, por quem eu não sei", disse Estrella em resposta a provocação feitas minutos antes por Victer. Para o secretário do Rio, o governo brasileiro e a Petrobras demoraram a reagir à crise boliviana. "Essa é uma crise anunciada, falamos disso no ano passado e fomos taxados de mensageiros do apocalipse", afirmou Victer.