Título: Brasil já estuda desligar termelétricas
Autor: Leila Coimbra
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Especial, p. A14

Crise na Bolívia Corte no fornecimento de gás natural boliviano levará à paralização de dez usinas no país

Caso a crise boliviana venha a comprometer efetivamente o abastecimento de gás natural no país, um dos pilares do plano de contingenciamento preparado pelo governo será o desligamento de usinas termelétricas movidas a gás em território brasileiro. Atualmente, dez térmicas estão em operação no país, produzindo uma média diária de 1.548 MW - ou 4,19% do consumo total do Brasil. Para gerar esse volume de energia, as usinas consomem, juntas, aproximadamente 7,5 milhões de metros cúbicos diários do insumo, volume equivalente a quase um terço do total das importações bolivianas. Esses dados fazem parte do Informativo Preliminar Diário da Operação feito na última quarta-feira - documento elaborado pelo Operador Nacional de Energia Elétrica (ONS), cuja atualização mais recente era a do dia 8 de junho, quarta-feira passada. Do total, oito usinas na região Sudeste estavam gerando: Cuiabá, Ibirité, Norte Fluminense, Termorio, Nova Piratininga, Santa Cruz, Piratininga e Arjona. No Nordeste, a Termopernambuco e a Fafen também produziam eletricidade a partir do gás. Estas usinas poderiam ser desligadas com certa tranqüilidade, já que existe água suficiente armazenada nos reservatórios das hidrelétricas para garantir a confiabilidade do abastecimento elétrico no país. No Nordeste, os lagos das usinas estão com 94,99% de sua capacidade total e no Sudeste, com 84,79%. No Sul, as duas térmicas movidas a gás na região - as usinas de Uruguaiana e Canoas - já estão paradas por falta de gás. Neste caso, não pela escassez do insumo boliviano, mas do gás importado da Argentina. Os reservatórios das hidrelétricas do Sul estão com com a capacidade mais baixa do país, de 67,48% do total, situação que ainda pode ser confortável. Para o especialista em energia e diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, a pior conseqüência desta crise de abastecimento de gás será a retomada da confiança no combustível pelo mercado consumidor após o contingenciamento. "O setor de gás vinha bem, com crescimento do consumo, e depois não será fácil recuperar a credibilidade". Segundo Pires, os casos mais críticos serão os dos Estados que hoje têm 100% de dependência do gás boliviano como Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em São Paulo, duas das três distribuidoras dependem totalmente do gás da Bolívia: a Gas Natural e a Gas Brasiliano.