Título: Dólar barato faz crescer a venda de bens de consumo importados
Autor: Daniela D'Ambrosio
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Empresas &, p. B1

Estratégia P & G, Kraft Foods, Pernod Ricard e General Brands ampliam compras no exterior

A forte queda do dólar está levando as multinacionais de bens de consumo a incrementar seu portfólio de importados. E nem mesmo os altos preços dos produtos vindos de fora em comparação aos similares nacionais arrefeceu os planos das companhias. Gigantes mundiais do porte da Procter & Gamble, Kraft Foods e Pernod Ricard estão aumentando a participação dos importados nas suas vendas. A americana Procter & Gamble registrou no Brasil um crescimento de 140% na venda de produtos importados no primeiro quadrimestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado. O carro-chefe dos importados da P&G, a batata-frita Pringles apresentou um aumento de 190% nas vendas nos primeiros quatro meses de 2005. Outra marca da companhia que não é produzida no Brasil, a Crest, registrou alta de 115% nas vendas de creme dental e de 50% nas escovas dentais manuais e elétricas. A Procter também importa Noxzema, espuma de barbear, Scope (anti-séptico bucal) e Cascade, detergente em pó para máquina de lavar louça. "O dólar baixo ajuda, sem dúvida, mas essa alta também reflete o aumento da demanda por produtos de maior qualidade, além de investimentos em ponto-de-venda e distribuição desses produtos", afirma Pedro Silva, diretor de relações externas da P&G. O cenário favorável às importações levou a Kraft Foods a ampliar a linha de importados. A distribuição desses produtos começou a ser feita em abril do ano passado - em parceria com a Athenas Trading - com 42 itens. Há pouco mais de um mês, a companhia decidiu estender a linha e hoje importa 60 itens, entre molhos para salada e barbecue (churrasco), cereais matinais, drops e balas. "Prevíamos que a operação de importados gerasse lucro apenas depois de dois anos, mas os resultados apareceram oito meses depois", diz Luiz Conte, diretor comercial da Athenas. "A queda do dólar foi fundamental para que decidíssemos ampliar a linha." Para o segundo semestre, a Athenas reviu o volume de compras e projeta um aumento das encomendas entre 7% e 8%. Ainda que o dólar favoreça as importações, os produtos vindos de outros países continuam mais caros do que os correspondentes nacionais. Entre as marcas da Kraft Foods, que são vendidas em supermercados e empórios, estão o Cereal Post, que custa, em média, R$ 15,00. O similar nacional da Kellogs custa entre R$ 5 e R$ 6. "Há uma forte procura por esse tipo de produto com qualidade diferenciada", diz Conte. O dólar em queda também favoreceu a Pernod Ricard, multinacional de bebidas, que está aumentando seu foco em produtos premium - justamente toda a linha de importados, como os uísques Chivas e Royal Salute, a vodka Wyborowa e o vinho australiano Jacob's Creek. Os importados representam 15% do faturamento da empresa, de R$ 330 milhões no Brasil em 2004, e abocanham 31% do investimento total de marketing - número que a empresa prefere não revelar. A expectativa do presidente da Pernod Ricard no Brasil, Edmundo Bontempo, é que o volume de vendas desses produtos cresça 20% neste ano. "Estamos conseguindo focar mais nos importados e ter margens mais favoráveis", diz Bontempo. Com a queda do dólar, segundo ele, o preço final das bebidas importadas já foi reduzido em cerca de 20% desde o início do ano. E ainda assim, os preços atuais permite margens mais folgadas para a empresa. Um uísque Chivas 18 anos, que está sendo relançado pela companhia, por exemplo, custa entre R$ 250 e R$ 270 e um Royal Salute, uísque de 21 anos, pode chegar a R$ 350,00. A linha de importados é voltada para um público extremamente seleto no Brasil, mas a empresa também produz bebidas populares. A Pernod Ricard Brasil fabrica localmente o Ron Motilla (marca que tem mais de 90% do mercado de rum no Nordeste), a vodca Orloff, o conhaque Macieira e o uísque Natu Nobilis. Também é dona da marca de vinhos Almadén, relançada no ano passado. Outro efeito colateral do dólar mais barato são os contratos de importação fechados por companhias nacionais. A General Brands, empresa brasileira apesar do nome, acaba de negociar um contrato exclusivo de importação com a ConAgra Foods, terceira maior empresa de alimentação dos Estados Unidos, com um faturamento de US$ 15 bilhões. A General Brands, que no Brasil produz os sucos Camp, comercializará aqui no Brasil dois produtos da ConAgra: a pipoca de microondas Orville e o Snack-Pack, um pudim que pode ficar fora da geladeira por até 15 meses. "A importação passou a ser um ótimo negócio para equilibrar o resultado, já que exportamos sucos e estamos apertados do outro lado", diz Isael Pinto, diretor-presidente da General Brands, que exporta cerca de 8% da produção de sucos em pó para 25 países.