Título: Infraero endurece com a Varig
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Empresas &, p. B2

Aviação A diretoria-executiva da estatal resolveu contrariar a indicação do ministro da Defesa

Correndo contra o tempo para evitar a devolução de 11 aviões à International Lease Finance Corporation (ILFC), a Varig recorreu ao governo para ganhar um alívio financeiro e levantar recursos que permitam honrar seus contratos de arrendamento dos jatos, mas teve sucesso apenas parcial nas conversas. O Banco do Brasil deverá aumentar, de US$ 10 milhões para US$ 14 milhões, o crédito rotativo dado à companhia aérea. Contrariando a expectativa da Varig, no entanto, a Infraero rejeitou flexibilizar os prazos de pagamento das taxas aeroportuárias pela empresa. Ontem de manhã, o presidente do conselho de administração da aérea, David Zylbersztajn, chegou a anunciar que havia acertado com a Infraero a retomada do pagamento quinzenal das tarifas. Em novembro, por causa de uma dívida de R$ 132 milhões só em 2004, a estatal começou a exigir o depósito diário e antecipado das taxas para autorizar a decolagem dos aviões. Zylbersztajn tinha motivos para acreditar na mudança do regime de cobrança da Infraero, fundamental para dar mais margem de manobra ao fluxo de caixa da empresa, hoje fortemente comprometido com as dívidas. Ele havia recebido essa indicação diretamente do vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, que também preside o conselho de administração da estatal. A alteração para o regime quinzenal de pagamento, que daria algum fôlego ao capital de giro da Varig, guardava uma condição: a entrega de um cheque pré-datado, no valor aproximado de R$ 12 milhões, como garantia de pagamento das taxas referentes aos 15 dias anteriores. A diretoria-executiva da Infraero, porém, resolveu contrariar a indicação de Alencar. Após uma reunião para discutir o assunto, decidiu que só flexibilizará a cobrança à Varig quando a companhia apresentar uma proposta para negociar a dívida de R$ 132 milhões. À tarde, um executivo da aérea chegou a telefonar para um funcionário da Infraero. Queria combinar os detalhes da entrega de um pré-datado para os próximos 15 dias. Mas ouviu o que não queria: a exigência do pagamento diário de R$ 1,3 milhão para poder voar hoje. Os diretores da estatal temem ser responsabilizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por gestão temerária da empresa. Por isso, deixam claro que só haverá flexibilização na cobrança em caso de determinação expressa do ministro da Defesa na reunião do conselho de administração da Infraero, prevista para o fim do mês. Nessa hipótese, a responsabilidade pela medida passa a ser do próprio Alencar. Zylbersztajn está confiante ainda na possibilidade de extensão dos prazos de pagamento de combustível pela BR Distribuidora. Atualmente, a Varig paga diariamente à subsidiária da Petrobras. A tendência é que esse pagamento seja diluído para cada 10 ou 15 dias, mas a mudança depende de uma decisão do conselho da estatal. A companhia aérea ainda deve R$ 53 milhões à BR, dívida que deve ser quitada em maio do ano que vem. Conforme explicou um alto executivo da Varig, a estratégia é reunir condições de pagamento à ILFC para evitar a todo custo a devolução de 11 jatos. Se as aeronaves forem devolvidas, a empresa teria que fazer um remanejamento considerável da sua frota para continuar atendendo algumas linhas. Zylbersztajn afirmou que as negociações com os credores - incluindo as empresas de leasing - vão bem e a exigência da ILFC é um "caso isolado". "Atrapalha, mas faz parte do jogo", afirmou o executivo. Segundo ele, a Varig nunca contou com a adesão de 100% dos credores, mas disse estar bastante otimista em chegar "a um número que viabilize" o plano de reestruturação montado em conjunto com a TAP. Nos próximos dias, a estatal portuguesa anunciará a contratação de um banco de investimentos estrangeiro para coordenar a operação e a futuro emissão de títulos no mercado financeiro. Na segunda-feira, as cúpulas da Varig e da TAP se reunirão em Brasília com o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal, que estará substituindo o ministro Antônio Palocci no cargo.