Título: Só quatro têm chance
Autor: Campos, Ana Maria; Tahan, Lilian; Sallum, Samantha
Fonte: Correio Braziliense, 08/04/2010, Cidades, p. 32

Só quatro têm chance

Dos 10 candidatos inscritos, apenas Wilson Lima, Ibañez, Coelho e Rosso têm reais possibilidades de vitória. Governador interino surge como favorito

A maior parte dos candidatos registrados na disputa eleitoral para o mandato-tampão de governador do Distrito Federal quer apenas marcar posição como alternativa de poder, expressar opinião sobre a crise política ou negociar espaço na futura administração. Entre os 10 concorrentes, apenas quatro reúnem condições para conseguir apoio suficiente e ser escolhido pelos distritais nas eleições indiretas marcadas para o próximo dia 17. Integrantes de partidos com representação na Câmara Legislativa, Wilson Lima (PR), Antônio Ibañez (PT), Luiz Filipe Coelho (PTB) e Rogério Rosso (PMDB) saem na frente dos demais.

No momento, o favorito é Wilson Lima, como ocorre em qualquer campanha em que o candidato concorre no exercício do mandato. Mas a proliferação de corredores no páreo pode levar a eleição indireta para um segundo turno. Defensores da candidatura de Lima contabilizavam ontem nove votos e acreditavam que, assim como nas eleições de outubro, a disputa também será travada numa segunda rodada com o candidato do PT, Antônio Ibañez.

O petista, que foi reitor da Universidade de Brasília (UnB), aliado do deputado federal Geraldo Magela, tem quatro votos garantidos e ainda pode conquistar o de José Antônio Reguffe (PDT), caso assuma compromissos como reduzir o número de cargos comissionados e publicar os gastos públicos na internet, exigências do pedetista. Ibañez tem chance porque não representa apenas um nome. Representa uma causa, acredita o deputado Chico Leite (PT). Para o líder da bancada do PT, Paulo Tadeu, a eleição é imprevisível. Não dá para dizer que há vencedores. Mostra uma eleição com todas as possibilidades. É uma eleição aberta, avalia Paulo Tadeu.

Influência Nesse quadro, os três deputados distritais do DEM Eliana Pedrosa, Paulo Roriz e Raad Massouh poderão decidir a eleição. O partido que em 2006 elegeu José Roberto Arruda e Paulo Octávio vive uma profunda crise com a briga interna entre o deputado Alberto Fraga e o empresário Osório Adriano, e decidiu liberar os distritais para votarem de acordo com seus interesses.

Dois concorrentes também poderão surpreender. Apadrinhado pelo senador Gim Argello, que comanda o PTB no Distrito Federal, o advogado Luiz Filipe Coelho surge como uma opção que pode crescer pelo perfil num momento de ameaça de intervenção federal. Da carreira da Procuradoria do DF, ele foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF). É uma disputa entre o velho e o novo, diz Coelho. Em tese, ele tem os votos dos petebistas Dr. Charles e Cristiano Araújo. Mas os dois deputados do PTB também têm sido cortejados por Wilson Lima.

Luiz Filipe, por sua vez, pode obter votos em outras legendas. Um dos simpatizantes de sua candidatura é o deputado Alírio Neto (PPS). Presidente da Casa nos dois primeiros anos da atual legislatura, Alírio também pode se aliar ao candidato lançado pelo PMDB, o ex-presidente da Codeplan Rogério Rosso. Vou procurar, junto com o PMDB, todos os deputados para expor nosso programa de trabalho para garantir a normalidade institucional do DF e evitar a intervenção federal no DF, disse Rosso. Ele conta com pelo menos três votos os da bancada do PMDB, Benício Tavares, Eurides Brito e Rôney Nemer.

Conta a favor de Rosso a parceria com Benício, que integra o chamado grupo dos 11 bloco que se comprometeu a votar no mesmo candidato. No entanto, esse acordo não deve prevalecer. Aylton Gomes (PR), que participava das reuniões, deve votar em Wilson Lima.

Outro integrante da bancada dos 11, Aguinaldo de Jesus (PRB) registrou candidatura. Embora não se despreze sua capacidade de mobilizar aliados entre os distritais, no meio político sua chances são consideradas remotas, uma vez que ele é alvo de ação de improbidade administrativa, proposta pelo Ministério Público do DF, junto com o ex-governador José Roberto Arruda, pela liberação de R$ 9 milhões para a realização da partida de reinauguração do estádio Bezerrão, no Gama, em dezembro de 2008. Aguinaldo, no entanto, é eleitor de sua própria candidatura.

Pedido negado Enquanto esquenta a disputa pelo mandato-tampão de governador, José Roberto Arruda continua na prisão até pelo menos a próxima segunda-feira. O ministro do Superior Tribunal de Justiça (STF) Fernando Gonçalves, relator do Inquérito nº 650, que desencadeou a Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal (PF), não acatou o pedido da defesa para analisar o habeas corpus ontem, durante reunião da Corte Especial. A próxima sessão será em 12 de abril. Com isso,Arruda detido em 11 de fevereiro completará dois meses detido nas dependênciasdo Complexo da PF.

Detalhes da intervenção

Luísa Medeiros e Thaís Paranhos Especial para o correio

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, relator do pedido de intervenção federal no DF, requisitou ontem à Procuradoria-Geral da República (PGR) que esclareça como seria aplicada a medida no âmbito do Poder Legislativo local. Roberto Gurgel afirmou que fará um esforço para devolver muito rapidamente os autos ao STF com a explicação de como deve ocorrer a intervenção na Câmara Legislativa. O instituto da intervenção é tão pouco praticado entre nós que há dúvidas, há muitas complexidades a respeito de seu alcance. Em princípio, acredito que Gilmar Mendes deseja esses subsídios do MP para eventualmente serem considerados durante a apreciação do pedido, afirmou. Havia uma expectativa da PGR de que o pedido de intervenção pudesse ser apreciado já na próxima semana, mas o próprio procurador disse ontem que acha difícil com a nova remessa de informações ao Supremo. Sobre a necessidade da medida no DF, ele mantém o discurso firme: Gostaria muito de poder dizer que, com o passar do tempo, os fatos evidenciaram que a intervenção já não é necessária. Infelizmente, os fatos só mostram que ela continua extremamente necessária.

Sem abraço No mesmo dia em que o presidente do STF fez o pedido à PGR, cerca de 200 pessoas se reuniram à noite, em frente ao tribunal, para se manifestar em favor da intervenção federal. Com cartazes e velas, os participantes protestaram contra a corrupção. A polícia acompanhou de longe o protesto. Uma grade separava o STF dos manifestantes, que não puderam abraçar o prédio como gostariam. Estamos aqui hoje para representaros eleitores de Brasília em busca da ética. E o único jeito é buscar a intervenção federal, disse o presidente da Associação de Moradores da Orla do Lago Norte, Benedito de Sousa.

PT blinda Agnelo

Após três dias de discussão, o diretório regional do PT fechou questão sobre como enfrentar as eleições indiretas na Câmara Legislativa sem atrapalhar a candidatura do petista Agnelo Queiroz ao Governo do Distrito Federal em outubro. Para não vincular a imagem da legenda a algum dos candidatos, a direção do PT decidiu lançar o ex-reitor da Universidade de Brasília Antônio Ibañez na disputa e aceitar apenas alianças com as legendas que deverão integrar a composição de forças em torno da campanha de Agnelo ou seja, PSB, PCdoB e PDT. O presidente regional do PT, Roberto Policarpo, procurou o comando das siglas aliadas para propor uma parceria na chapa, mas ninguém topou.

O PCdoB decidiu também lançar candidato próprio na eleição indireta. O advogado José Messias de Souza, que até o fim de março ocupava cargo na equipe do ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi escolhido como o representante comunista na disputa. O presidente do PCdoB-DF, Augusto Madeira, explica que a escolha de Messias ocorreu mais de uma semana antes da data limite para o registro das candidaturas na Câmara Legislativa e a proposta de união com o PT só surgiu no fim da tarde de ontem. Não havia mais tempo de convocar o diretório regional para tratar do assunto, explica Madeira.

A tese de restringir a aliança nas eleições indiretas foi vencedora no diretório do PT-DF depois de muito debate. Aliados do deputado federal Geraldo Magela (PT) eram favoráveis a uma composição mais ampla, com todos os partidos da base do governo Lula, o que incluiria, por exemplo, PTB, PMDB, PR e PRB. Derrotado nesse ponto, Magela conseguiu emplacar o nome de sua preferência para a candidatura na Câmara. Ibañez é seu aliado no PT e, inclusive, o apoiou nas prévias para a escolha do representante petista na campanha de outubro, contra Agnelo. Outros nomes foram discutidos no PT, como o sindicalista Cícero Rola, que acabou sendo indicado como vice, e o da ex-deputada federal Maria Laura. O ex-deputado Sigmaringa Seixas era o preferido, mas não aceitou a indicação. (AMC)

DEM recua e desiste

Depois de iniciar uma ofensiva para recuperar o espaço político no DF, perdido com as denúncias da Operação Caixa de Pandora, o DEM recuou ontem. Mudou o discurso, numa reviravolta estratégica para não se ver envolvido em nova crise interna. Na semana passada, a executiva regional foi recomposta pela direção nacional, após ter sofrido uma dissolução em meio ao escândalo no GDF, já que o ex-governador José Roberto Arruda era do partido e o vice Paulo Octavio ainda era o presidente regional da legenda. O DEM-DF, com nova direção, lançou anteontem Osório Adriano como candidato à eleição indireta para governador. No entanto, retirou a pré-candidatura ao decidir não registrar chapa alguma.

Até as 16h de ontem, a candidatura de Osório Adriano tentava sobreviver. Mas não resistiu à pressão interna, que veio inclusive da executiva nacional. Oficialmente, o DEM informou que a decisão partiu do próprio Osório Adriano, por avaliar que o cenário não era favorável a ele. Adriano esbarrou em resistência interna. O deputado federal Alberto Fraga lhe fez oposição e reclamou à direção nacional do partido que tinha sido preterido, já que ele tem a maior votação do partido no DF hoje. Em reunião ontem à tarde, o DEM-DF preferiu assumir novo discurso, agora de afastamento do processo eleitoral que vai escolher indiretamente o governador. Não queremos dar continuidade a nenhuma gestão que veio do governo Arruda. Não queremos esse cargo agora. Temos de pensar nas eleições é de outubro, explicou o presidente regional do DEM, Adelmir Santana.

Os três deputados distritais do DEM Paulo Roriz, Eliana Pedrosa e Raad Massouh agora terão o voto disputado pelas 10 chapas inscritas. Agora, sigo voo próprio. Votarei em quem me deixar com a consciência tranquila. Meu compromisso era apoiar um candidato do DEM. Já que não temos, me sinto livre para fazer minha escolha, disse Massouh. (SS)