Título: Ocioso, porto de Rio Grande busca carga no Mato Grosso
Autor: Fernando Lopes, Sérgio Bueno e Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 10/06/2005, Agronegócios, p. B13
Com um nível de ociosidade estimada em 70% pelo superintendente Vidal Áureo Mendonça em função da quebra de 72% na safra gaúcha de soja, para 2,3 milhões de toneladas, o porto de Rio Grande está buscando mecanismos para atrair cargas de outras regiões nesta safra 2004/05, em especial do Mato Grosso. As negociações incluem a superintendência, vinculada ao governo do Estado, os operadores logísticos e terminais privados e têm como principal objetivo a redução de custos. "É uma equação difícil", admite o gerente da Bianchini S.A., Antônio Carlos Bachieri Duarte. Conforme ele, para ser escoada por Rio Grande a soja do Mato Grosso teria que percorrer 800 quilômetros a mais em relação a Paranaguá (PR). Neste caso, a vantagem do porto gaúcho é que ele está operando sem fila de espera, e o custo de um navio parado chega a cerca de US$ 35 mil por dia, explica o executivo. Duarte classifica de "louvável" a iniciativa de Rio Grande para tentar reduzir custos, mas lembra que, além dos terminais, que podem baixar tarifas de armazenagem e expedição, o plano depende do próprio governo estadual em relação ao ICMS sobre fretes, por exemplo. No total, o porto gaúcho tem capacidade de armazenamento de 1,6 milhão de toneladas de granéis e pode movimentar 180 mil toneladas por dia. Só a Bianchini pode armazenar 1 milhão de toneladas e embarcar 2 mil toneladas por hora. Além disto, a empresa está investindo R$ 30 milhões para dobrar a capacidade de expedição até a próxima safra. Com a quebra provocada pela estiagem, as exportações de soja em grão por Rio Grande caíram 95% nos quatro primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período de 2004, de 658 mil toneladas para 31,5 mil toneladas, informou a superintendência do porto. Em 2004, quando a safra já havia enfrentado uma seca que a limitou em 5,5 milhões de toneladas, os embarques recuaram quase 43% em relação ao ano anterior, para 2,3 milhões. A situação atual é bem diferente da de 2003, quando o Estado produziu uma supersafra de 9,5 milhões de toneladas de soja e enfrentou a falta de caminhões e vagões para o transporte da produção até o porto, compara o gerente de granéis da América Latina Logística (ALL), que opera as ferrovias no Estado, Leandro Mayer. Naquele ano, também houve demoras de sete a oito dias para a liberação dos navios em Rio Grande, agravadas pelo excesso de chuva no período, lembra Duarte. "O governo tem mais sorte do que juízo", diz o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas do Rio Grande do Sul (Setcergs), Sérgio Gonçalves Neto. De acordo com ele, 76% dos 5 mil quilômetros de estradas federais no Rio Grande do Sul estão em más condições devido à falta de investimentos em conservação. Na malha estadual a situação é um pouco melhor porque boa parte foi concedida à exploração privada, mas aí o problema é o impacto do custo dos pedágios sobre o transporte. Com o baixo volume de carga no Estado, as empresas e caminhoneiros autônomos acabaram realocando suas frotas para outras regiões do país. Estratégia semelhante adotou a ALL, que no período de colheita deste ano deslocou 180 vagões (com 50 toneladas de capacidade cada um) por dia para transportar arroz e fertilizantes até Maringá (PR), de onde as mercadorias seguem de caminhão para São Paulo e Centro-Oeste. Na volta, as composições transportam milho para indústrias gaúchas. Ao mesmo tempo, o número de vagões que levam soja do interior do Rio Grande do Sul para o porto de Rio Grande caiu de 200 por dia em 2004, o que representava cerca de 80% da movimentação da empresa na região, para 100 a 120 vagões, explica Mayer. A quantidade de vagões que leva arroz gaúcho, argentino e uruguaio para Rio Grande também subiu de 15 por dia no ano passado para cerca de 50, calcula o gerente. "Assim conseguimos atingir nossas metas", diz Mayer. Segundo ele, a ALL aumentou em 20% a capacidade de carga no Estado nos dois últimos dois anos. A empresa teria até 380 vagões disponíveis por dia para circular no Rio Grande do Sul, mas algumas unidades ficaram ociosas e foram deslocadas para o Paraná. Conforme o gerente, a companhia poderia operar sem sobressaltos num cenário de 7 milhões a 8 milhões de toneladas para a safra de soja no Rio Grande do Sul.