Título: Serra e Marta intensificam campanha nos distritos eleitorais mais pobres
Autor: Cristiane Agostine e César Felício
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2004, Política, p. A-6

A dez dias do segundo turno, a prefeita de São Paulo e candidata do PT à reeleição Marta Suplicy anunciou que já enviou para a Câmara dos Vereadores a proposta de passe livre para desempregados no transporte coletivo, dentro do sistema de bilhete único. Cerca de 18 % da população economicamente ativa da cidade estão nesta condição. No reduto da adversária, o candidato do PSDB, José Serra, concedeu entrevista em uma favela para tentar demonstrar que Marta não investe na área social. Para atingir Serra, Marta manteve a opção do caminho indireto. Atacou em entrevista o governador Geraldo Alckmin (PSDB), sem que ninguém a perguntasse sobre o tema, acusando-o de não investigar o limite orçamentário obrigatório de 12% na área da saúde. Marta percorreu os bairros de Cidade Ademar e Pedreira, na Zona Sul, onde ganhou de Serra no primeiro turno. O candidato a vice, Rui Falcão, afirmou que o partido adotou como estratégia tentar reforçar a margem da candidata nos locais onde ganhou, ao invés de tentar crescer na região central da cidade, onde perdeu. Marta disse que o governo estadual usa de artifícios para driblar o limite orçamentário na saúde, área em que o governo petista é muito criticado. "O governo do Estado, do PSDB, que fala que desempenha tanto na saúde, não gasta os 12% que tem que gastar na saúde. Coloca itens que não deveriam estar lá, como o Bom Prato, projetos sociais para presidiários e até o projeto habitacional Sonho Meu". A Secretaria de Saúde do Estado negou as afirmações, dizendo que os programas citados pela prefeita estão fora do Orçamento da pasta. "São Paulo é um dos poucos estados do país a cumprir integralmente a exigência constitucional de aplicar na saúde pública pelo menos 12% das receitas correntes líquidas e tem todas as suas contas aprovadas pelos órgãos fiscalizadores", disse nota divulgada pelo órgão estadual. A prefeita minimizou a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na inauguração de um centro odontológico na cidade. "Faz parte do trabalho do presidente da República. Não tem por que não entregar a obra em São Paulo , já que entregou em outras cidades", afirmou. Um mal entendido sobre a visita do presidente fez com que Serra retificasse declarações. Na entrevista, Serra atacou o presidente ao ouvir uma pergunta equivocada de um repórter, que indagou o que o tucano achava do presidente inaugurar obras municipais em São Paulo. "O presidente deveria estar trabalhando pelo País e não pela candidatura do PT aqui", afirmou. Mais tarde, ao saber que a obra inaugurada ontem por Lula em São Paulo era federal, avisou, por meio de sua assessoria de imprensa, que retirava a frase. Serra foi hostilizado ao visitar ontem Jardim Damasceno e Morro Doce, bairros pobres da Zona Norte da cidade. Em sua primeira parada, um morador atirou um ovo contra o candidato, errando o alvo. Em peruas escolares, crianças gritavam o nome da adversária petista. No segundo lugar, houve briga entre militantes do PT e PSDB e Serra foi acompanhado por dois policiais militares enquanto permaneceu no local. Na região pobre da Zona Norte, Serra ficou em segundo lugar no primeiro turno, mas com votação próxima de Marta. A estratégia tucana ao intensificar a campanha nestes lugares foi captar os votos dos candidatos derrotados Maluf (PP) e Erundina (PSB), de modo a reverter o resultado. O candidato usou a visita ao Jardim Damasceno também como forma de ataque a Marta. Parou para dar uma entrevista coletiva de frente a uma região sem pavimentação, com barracos em palafitas, erguidas em um córrego mal cheiroso, no meio de crianças descalças e cachorros vira-latas. "Aqui podemos ver a carência e a pobreza total. Todos podem conferir que a prefeitura não fez nada nesta região. O CEU é para poucos", disse o tucano, referindo-se à escola integrada de Marta, que fica a alguns quilômetros da região visitada pelo tucano.