Título: Para governo alemão, ganhos estão lentos
Autor: Sérgio Bueno
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2005, Brasil, p. A3

Natural de Rolândia (PR) e cidadão brasileiro e alemão, o secretário de Estado do Ministério das Finanças da Alemanha (cargo equivalente ao de vice-ministro), Caio Koch-Weser, diz que o desenvolvimento sustentável da economia do Brasil depende de uma melhor distribuição de renda e da redução das desigualdades sociais no país. Na opinião dele, os dois fatores são tão importantes quanto os investimentos em infra-estrutura, o aprimoramento do mercado de capitais e as reformas estruturais, que agora estão "em passo mais lento por causa de certas dificuldades políticas" no país. Conforme o secretário, desde os anos 60 o Brasil discute iniciativas para reduzir os desequilíbrios sociais, fomentar o desenvolvimento regional e adotar uma política de educação e saúde que realmente "tome conta da grande pobreza", mas nunca conseguiu implementar uma estratégia bem sucedida de longo prazo. "E é uma certa ironia que (a situação) continue neste governo", afirma, acrescentando em seguida que não deseja comentar a política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na área porque se trata de um problema de "muito mais longo prazo". Mesmo assim, Koch-Weser lembra que o Brasil é "um dos países com os maiores desequilíbrios sociais" em todo o mundo. Na opinião dele, tanto Lula quanto o seu antecessor Fernando Henrique Cardoso deram alguns "passos" para reduzir o problema, mas em "toda a América Latina" o desequilíbrio na distribuição de renda é maior do que na Ásia. "Isso não pode continuar assim", afirma. O secretário também fez elogios a iniciativas do governo brasileiro, como a decisão de não renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo ele, o mercado percebeu a medida como um "ato positivo" e os desempenhos econômico e fiscal permitem que o país recorra novamente à instituição se necessário. "Quando entrava em contato com os meus colegas no Brasil, este era o meu conselho", revela. Outro ponto positivo do governo Lula, de acordo com Koch-Weser, é o esforço que vem sendo feito para reforçar as exportações, em especial o trabalho liderado pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, para abrir novos mercados, inclusive o da China, para produtos como soja e minérios. "Me parece uma estratégia muito boa, claro que facilitada pelo crescimento da economia mundial nos últimos anos, e isso precisa continuar." Na embaixada brasileira em Berlim, porém, as repercussões das dificuldades enfrentadas pelo governo no Congresso sobre o humor dos investidores alemães já começam a fazer parte das preocupações dos diplomatas. "É claro que momentos políticos delicados têm reflexos, principalmente no investidor alemão, que é muito tradicional", comenta o chefe do departamento de comércio da embaixada, Rodrigo Carvalho. De acordo com ele, o trabalho da representação diplomática é justamente mostrar que o Brasil tem segurança legal e uma estrutura institucional "estável" funcionando apesar de situações conjunturais "relativamente adversas".