Título: Senador petista defende que sigla entregue cargos de confiança
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2005, Política, p. A10

Crise Proposta destoa da busca de unidade do PT em defesa de Lula e da permanência de Dirceu

O vice-presidente do Senado, Tião Vianna (PT-AC), propôs ontem que todos os ministros do PT e funcionários comissionados entregassem os cargos ao presidente. A única exceção seria o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "O ministro Palocci é um nome que não faz parte de nenhum tipo de dúvida. É um nome inatingível, e está acima da disputa com a oposição", disse Vianna. Segundo o petista, a entrega de cargos seria "o primeiro passo para preservar a história do PT". Ele defendeu que todos os cargos vagos sejam ocupados por funcionários de carreira. "Não podemos deixar nenhuma dúvida sobre a honestidade do PT. Essa seria a melhor maneira (a entrega de cargos) de ajudar o PT, a nossa história e a nossa dignidade. O PT está sendo injustamente atingido em sua honra", desabafou. O discurso do senador não foi combinado com o governo e destoou da estratégia do Palácio do Planalto, de adiar a reforma ministerial. O líder do governo no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP), afirmou que não é necessária a renúncia coletiva para que o presidente faça a reforma. "A mesma voz que nomeia pode afastar. O presidente, e só ele, vai definir a oportunidade ou não de mudar sua equipe", acrescentou o senador. "Até que alguma prova seja apresentada, não podemos pedir que pessoas se afastem (do governo)", disse Mercadante, sugerindo que Dirceu deve ficar no cargo. Tião Vianna também saiu em defesa de Dirceu, apesar de propor a renúncia coletiva. "É injusto que queiram tratar o ministro José Dirceu como um espantalho. Ele é um patrimônio do PT e não pode ser tratado desta forma", afirmou. Até o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) considerou desnecessária a renúncia coletiva de ministros petistas. "Não vou dizer ao presidente que ele deve destituir este ou aquele ministro. Tenho total solidariedade e confio inteiramente no presidente da República", disse Suplicy. Além da sugestão de renúncia coletiva ter sido abortada pela segunda vez , o governo também conseguiu conter ontem uma marcha de deputados petistas de correntes mais radicais da esquerda ao Planalto. O temor de que a crise política contamine a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva uniu as diversas correntes do PT no Congresso. Apesar de ainda defenderem estratégias totalmente distintas para enfrentar a crise - e por isso, muitas vezes, provocarem constrangimentos ao Executivo -, os petistas estão cientes de que é necessário prestar total solidariedade a Lula neste momento e fazer o possível para minimizar os danos ao que classificam de "patrimônio ético do PT". Os petistas consideram que Lula fez um discurso forte e determinado de combate à corrupção. A permanência do ministro José Dirceu (Casa Civil) no governo é outro ponto de convergência. Eles alegam que não há, até o momento, prova contra o ministro. Nos três últimos dias os dirigentes petistas deram sinais de reaproximação com o governo. A solidariedade petista, no entanto, ainda provoca dores de cabeça ao governo. O grupo da chamada esquerda partidária elaborou uma carta aberta ao presidente Lula. Além de enfatizar a solidariedade ao presidente, sugerem mudanças no ministério e pedem o afastamento do ministro Romero Jucá e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, uma vez que há processos contra ambos em curso na Justiça. O chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, pediu aos parlamentares que adiassem a marcha ao Palácio, pois Lula tem interesse em receber, de maneira coletiva, toda a bancada da Câmara e do Senado. A marcha, aconselhou o Palácio, passaria a imagem de que o PT está dividido e pressionando o presidente. O líder do partido na Câmara, Paulo Rocha (PT-PA) disse que a reunião serviu ao entrosamento entre as bancadas e a Executiva. "É fundamental estarmos unidos na defesa do partido. Está havendo uma ataque frontal ao PT de forma preconceituosa. Precisamos ter unidade com a base aliada para dar governabilidade ao presidente ", afirmou. O presidente do PT, José Genoíno, disse que o senador Tião Viana fez uma proposta "individual" e que as decisões coletivas são sempre melhores - "Vamos defender o PT em todas as áreas e instâncias e vamos mostrar nosso compromisso de combate à corrupção". Ele também negou o adiamento das eleições para o presidente do partido.