Título: Leilão de Belo Monte a qualquer custo
Autor: Mendes, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 09/04/2010, Economia, p. 14

Lula avisa que a usina será vendida mesmo sem surgir um segundo interessado. Vitrine do PAC, o projeto é considerado estratégico

Preocupado com as eleições de outubro, o governo federal não admite, em nenhuma hipótese, um fracasso para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA). Por isso, chamou para si a responsabilidade de fazer o projeto sair do papel, mesmo que só haja um consórcio interessado no empreendimento. Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi categórico. De uma coisa, as pessoas podem ficar certas: vamos fazer Belo Monte. Isso é importante ficar claro, em alto e bom som. Entrem ou não entrem, afirmou o presidente, ao ser questionado sobre a desistência das construtoras Camargo Corrêa e Odebrecht de encabeçar um consórcio para concorrer ao leilão.

O presidente ressaltou que é preciso encontrar o preço justo para a construção da usina sem ceder à pressão e às condições impostas pelos empresários. Nem queremos que o empresário tenha prejuízo nem queremos que o consumidor de energia pague lucros exorbitantes. Portanto, para nós, tem um caminho do meio, e sabemos qual é. Isso já aconteceu um pouco em Santo Antônio e Jirau, que foi resolvido, disse.

A contundência do discurso do presidente denota a intenção de garantir, a qualquer custo, o êxito da vitrine do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) calculada em R$ 19 bilhões e uma das bandeiras da pré-candidata do governo, a ex-ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao Palácio do Planalto. Outra razão para tanto esmero na defesa do empreendimento é evitar que o possível fiasco da licitação represente um deslize no setor energético, algo que possa ser comparável ao racionamento de energia da gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em 2002, o PT de Lula ganhou as eleições pregando contra o fantasma do apagão elétrico.

Páreo A Eletrobras ainda não divulgou a lista oficial das empresas inscritas para participar do leilão com a Eletronorte. Limitou-se apenas a dizer que há mais de 10 empresas cadastradas, mesmo depois da saída da Camargo Corrêa e Odebrecht do páreo. Com isso, até agora, o único grupo confirmado para a licitação é o formado por Neoenergia, Andrade Gutierrez, Neoenergia, Vale e Votorantim.

Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) responsável pela elaboração dos estudos técnicos de Belo Monte , evitou comentar sobre nomes e número de empresas inscritas, mas disse acreditar que ao menos dois consórcios disputarão o leilão. Acho que o mais provável são dois (concorrentes). Mas se não tiver (mais) ninguém, (o leilão) será feito, afirmou. Ele afastou ainda a hipótese de que, em uma eventual falta de competição, a inexistência de deságio(1) sobre o preço máximo estipulado para o megawatt/hora da usina seja visto também como outro fiasco.

O preço da tarifa é extremamente competitivo. Saindo a usina a R$ 83 o megawatt/hora, poderemos dizer que é uma vitória. É um preço muito mais baixo do que se tem contratado a energia. Se tiver deságio, melhor ainda, ressaltou. (Colaborou Flávia Foreque)

1 - Redução Desconto que grupos concorrentes em um processo de licitação oferecem em relação ao preço máximo estabelecido pelo governo. Tipo de leilão ao contrário, em que vence aquele que oferecer o maior deságio e, portanto, o menor preço. No caso da usina de Belo Monte, por exemplo, o preço máximo é de R$ 83 por megawatt hora. Ganhará aquele que oferecer o maior desconto, barateando o custo da obra.

O preço da tarifa é extremamente competitivo. Saindo a usina a R$ 83 o megawatt/hora, poderemos dizer que é uma vitória. Se tiver deságio, melhor ainda Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE)

Análise da notícia Custo da lentidão

O governo está pagando o preço da lentidão habitual na condução dos projetos de infraestrutura do país, em especial, da gigante hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, com potência de 11 mil megawatts de energia. Considerada estratégica para a campanha eleitoral de Dilma Rousseff (ex-ministra da Casa Civil e também de Minas e Energia) à presidência, a licitação da usina pode não repetir o sucesso das concessões, conduzidas por ela, das hidrelétricas do Complexo do Madeira: Santo Antônio e Jirau. A primeira teve um deságio de 35%. Na sequência, a segunda teve resultado ainda melhor : recuo de 21,6% no preço.

Sem um segundo competidor em Belo Monte, não há chance de queda no preço máximo de R$ 83 fixado para o megawatt/hora da usina. Mantido o leilão, ganhará o consórcio que já fez os cálculos para a receita que obterá nos 30 anos da concessão. Perderão o setor energético, com competição menor, e o consumidor, sem chances de redução na conta de energia. (Márcio Pacelli)

Chineses na briga

Os chineses devem ser um dos trunfos usados pelo suposto consórcio liderado pela Bertin, junto com as construtoras Queiroz Galvão, OAS, Mendes Júnior e Serveng, para concorrer com o grupo já confirmado e encabeçado pela Andrade Gutierrez, Neoenergia, Vale e Votorantim no leilão para a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Segundo fontes do mercado, a estratégia é baixar o custo de aquisição de turbinas de geração de energia entre 25% e 30% dos US$ 3,4 bilhões previstos para esses equipamentos.

As empresas escolhidas seriam a Harbin ou a Dongfang, que concorrem direto com as europeias Alstom e Voith. Esse leilão de Belo Monte é estratégico para todas as empresas de turbinas do mundo. As empresas chinesas estão de olho no mercado brasileiro. Como tudo que vem da China, elas têm preços bastante competitivos e condições de colocar no Brasil produtos com valores bem atrativos, revelou uma fonte da iniciativa privada.

A desistência da Odebrecht e da Camargo Corrêa em participar do leilão não surpreendeu Ildo Sauer, professor de energia do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP). Não foi surpreendente a saída deles porque há muitas controvérsias. Os atributos naturais do projeto são extraordinários. Só não superam os problemas políticos, sociais e ambientais, que têm sido protelados há tantos anos, ressaltou. Sauer se referiu às várias ações na Justiça contra a obra e a falta de diálogo para resolver os impasses com a população que vive na região.

O governo poderia ter feito uma negociação transparente. Não fez nada ao longo de sete anos e resolveu passar o rolo compressor, criticou. Na análise do especialista, o risco do negócio para os empresários é mínimo. O capital para investimento é obtido a um custo baixo, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e há garantia de compra da energia gerada pelo mercado consumidor brasileiro. (KM)

Chineses na briga

Os chineses devem ser um dos trunfos usados pelo suposto consórcio liderado pela Bertin, junto com as construtoras Queiroz Galvão, OAS, Mendes Júnior e Serveng, para concorrer com o grupo já confirmado e encabeçado pela Andrade Gutierrez, Neoenergia, Vale e Votorantim no leilão para a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Segundo fontes do mercado, a estratégia é baixar o custo de aquisição de turbinas de geração de energia entre 25% e 30% dos US$ 3,4 bilhões previstos para esses equipamentos.

As empresas escolhidas seriam a Harbin ou a Dongfang, que concorrem direto com as europeias Alstom e Voith. Esse leilão de Belo Monte é estratégico para todas as empresas de turbinas do mundo. As empresas chinesas estão de olho no mercado brasileiro. Como tudo que vem da China, elas têm preços bastante competitivos e condições de colocar no Brasil produtos com valores bem atrativos, revelou uma fonte da iniciativa privada.

A desistência da Odebrecht e da Camargo Corrêa em participar do leilão não surpreendeu Ildo Sauer, professor de energia do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da Universidade de São Paulo (USP). Não foi surpreendente a saída deles porque há muitas controvérsias. Os atributos naturais do projeto são extraordinários. Só não superam os problemas políticos, sociais e ambientais, que têm sido protelados há tantos anos, ressaltou. Sauer se referiu às várias ações na Justiça contra a obra e a falta de diálogo para resolver os impasses com a população que vive na região.

O governo poderia ter feito uma negociação transparente. Não fez nada ao longo de sete anos e resolveu passar o rolo compressor, criticou. Na análise do especialista, o risco do negócio para os empresários é mínimo. O capital para investimento é obtido a um custo baixo, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e há garantia de compra da energia gerada pelo mercado consumidor brasileiro. (KM)