Título: Consumidor jovem compra arte contemporânea e aquece mercado
Autor: Tainã Bispo
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2005, Empresas &, p. B6

Comportamento Economia estável e dólar barato ajudam a fortalecer hábito de freqüentar leilões

O mercado de artes plásticas, que atravessou um período de certa estagnação nos anos 90, voltou a crescer nos últimos cinco anos e parte dessa recuperação deve-se a um novo tipo de investidor. Jovem, e com dinheiro, o novo consumidor freqüenta leilões e galerias e interessa-se, em especial, por arte contemporânea. Uma geração de jovens executivos e profissionais liberais está modificando o perfil do comprador de arte, diz Peter Cohn, marchand há 40 anos e dono da Dan Galeria. Segundo Cohn, esses novos consumidores "estão comprando arte contemporânea do período histórico deles. São peças que estão em sintonia com a produção estética do seu tempo". Aloisio Cravo, leiloeiro há 25 anos, concorda. Ele tem atendido, cada vez mais, jovens entre 30 e 45 anos que estudaram no exterior, possuem poder aquisitivo relativamente alto e estão "antenados" com o mercado. A estabilidade econômica e, mais recentemente, a baixa cotação do dólar, também ajudam a fortalecer o hábito de comprar obras de arte. As preferências desse grupo de consumidores e o trabalho de exposição feito pelas galerias especializadas têm servido para valorizar, e elevar os preços, de alguns artistas brasileiros. Beatriz Milhazes, artista carioca, é um exemplo. Sua obra é administrada pela Fortes Villaça, que preferiu não conceder entrevista. Beatriz Milhazes é uma das artistas mais citadas por especialistas no quesito valorização. Um óleo sobre tela assinado por ela pode chegar a custar US$ 100 mil, estima Aloisio Cravo. Há oito anos, uma obra sua podia ser comprada por R$ 20 mil a R$ 30 mil. Vik Muniz, artista brasileiro radicado em Nova York, também integra essa seleta lista. Uma foto pode custar entre R$ 70 mil a 80 mil. Ainda assim, "os modernistas continuam sendo os nossos carros-chefes", diz Emerson Curi, leiloeiro há 15 anos em São Paulo, referindo-se a artistas como Anita Malfati, Tarsila do Amaral, Alberto Guignard, Di Cavalcanti e Portinari, entre outros. Curi observa que nos últimos anos há mais pessoas interessadas em arte e uma das razões para isso, segundo ele, é a maior divulgação de leilões e exposições na mídia, que tem dado mais espaço para o assunto. Cravo acredita que a intensa atividade em alguns museus brasileiros na década de 90, com exibições que atraíram milhares de pessoas, contribuiu para a consolidação do mercado de arte no país. Em sua opinião, a gestão de Emanuel Araújo na Pinacoteca do Estado de São Paulo influenciou positivamente a administração dos museus naquela época. Todos esses fatores impulsionaram o mercado de arte nos últimos anos e uma das empresas que têm se beneficiado desse novo ambiente é a Companhia das Artes. Fundada em 2002, a casa de leilão faz parte da holding Central de Leilões, que, segundo Claudio Cohn, responde por 30% do mercado de leilões de automóveis e 80% do mercado de cargas e materiais, onde vende-se desde parafusos e bobinas de papel até vasilhames de refrigerante. A Companhia das Artes cresceu 60% em três anos. Faturou R$ 6,5 milhões em 2004 e neste ano Cláudio Cohn estima uma receita de R$ 8 milhões. Ele promove dois leilões por ano e amanhã, dia 15, conduzirá o sexto leilão realizado pela empresa. Serão 178 lotes, cujo valor total é estimado em R$ 6,8 milhões (US$ 2,7 milhões). Cláudio enfatiza que o crescimento da Companhia das Artes não deve ser calculado somente em números. A credibilidade da casa aumentou, diz. Atualmente, ele recebe uma quantidade maior de trabalhos de qualidade e possui um leque mais amplo de escolhas. Além do leilão da Companhia das Artes, Curi comandou três dias de leilão na Villa Antica, empresa que atua há 15 anos no mercado. No leilão que começou dia 9 de junho foram ofertados 650 lotes, equivalentes a R$ 2 milhões em obras de arte, mobília e porcelana. Do total de lotes apregoados, 70% foi vendido. O importante para que o mercado de arte continue crescendo, segundo os especialistas, é desmistificar o leilão. Tanto Curi quanto Cláudio e Peter Cohn concordam: a idéia de que leilões são eventos elitilizados é errada. "Não precisa ter muito dinheiro para comprar uma obra de arte. Pode-se comprar uma entre R$ 2 mil a R$ 5 mil", diz Cravo. No leilão a ser realizado pela Companhia das Artes amanhã, por exemplo, há obras dos artistas de Alex Flemming e Cildo Meirelles por R$ 5 mil.