Título: Fitch alerta emergentes sobre o risco de desaceleração da economia global
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2005, Finanças, p. C2

Os contínuos desequilíbrios entre o desempenho das principais economias desenvolvidas está aumentando o risco de uma desaceleração da economia mundial e de uma correção nos preços dos ativos nos mercados de capitais. Os países emergentes, embora ainda vulneráveis, estão mais preparados para enfrentar uma maior volatilidade dos mercados, ao contrário de 1997 e 1998, durante as crises da Ásia e da Rússia. As conclusões são de um estudo da agência de classificação de risco Fitch Ratings. Um das razões para o melhor preparo dos emergentes é o aumento das reservas internacionais destes países, que passaram de US$ 700 bilhões no final de 1997, para US$ 2,3 trilhões este ano. Esses recursos, segundo o relatório, "compraram um bocado de proteção contra choques dos mercados, embora a um preço bastante alto". A conclusão geral é que estes países têm melhores fundamentos e melhores condições para absorver a "qualquer choque no crescimento global". Para o Brasil, a avaliação é de que o país também está melhor preparado. Na avaliação de Paul Rawkins, diretor sênior da Fitch e o responsável pelo relatório, em um cenário de aumento da aversão ao risco no mercado internacional, o Brasil ficaria vulnerável, dada a sua dependência de capital externo. Mas Rawkins destaca que, como esta dependência se reduziu nos últimos anos, o impacto seria menor, embora possa influenciar a taxa de câmbio, os juros e a inflação. O executivo da Fitch ressalta que, com aproximadamente US$ 40 bilhões em reservas internacionais, o Brasil "está em uma posição melhor que no passado", mas ainda tem que honrar entre US$ 30 bilhões a US$ 38 bilhões por ano na amortização de compromissos externos. "Com o fim do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o país perdeu uma garantia automática de segurança", destacou o analista ao Valor. Para a economia global, as projeções são de um crescimento menor este ano, em torno de 3%, abaixo dos 4% de 2004. Na zona do euro, o desempenho deve ser ainda menor. A Fitch reduziu as projeções de avanço para a região de 2% para 1,5% neste ano. "Os riscos de um "hard landing" estão crescendo na Europa na medida em que as reformas econômicas são postergadas e os EUA não resolvem seu déficit", ressalta o relatório. A América Latina também deve crescer menos: 4% este ano, abaixo dos 5,8% do ano passado. As emissões soberanas dos países emergentes devem ficar em torno de US$ 53 bilhões em 2005, uma queda 15% em relação às emissões de 2004. A América Latina deve lançar US$ 19,3 bilhões, também abaixo dos US$ 23 bilhões do ano anterior. A necessidade de financiamento externo dos emergentes (influenciado pelas dívidas das empresas privadas e pelos déficits nas conta correntes, principalmente no Leste Europeu) deve ficar na casa de US$ 300 bilhões este ano, o maior nível desde 1998. A América Latina, porém, está em situação bem melhor. A região precisa de US$ 90 bilhões, menos da metade do que precisava em 1998.