Título: Em semana de turbulências, saque chega a R$ 1 bilhão
Autor: Flavia Lima
Fonte: Valor Econômico, 14/06/2005, EU &, p. D2

Fundos Crise política favorece resgates e afeta a rentabilidade das carteiras de ações e cambiais

A crise política atingiu também os fundos de investimento. O setor registra saques de R$ 2,3 bilhões em junho, em meio a resgates de R$ 1 bilhão no período de sete dias encerrado no dia 9, segundo balanço do site Fortuna. Seis das nove categorias de fundos estão com saldo negativo em junho. As perdas, no entanto, se concentram nas carteiras mais conservadoras e não nos fundos mais agressivos, como vinha ocorrendo até então. Até o dia 9, a renda fixa prefixada perde R$ 993 milhões, enquanto as carteiras DI registram resgates de R$ 854 milhões e os curto prazo, de R$ 558 milhões. Parte desse movimento pode ser explicado pela migração de recursos ocorrida entre dois fundos do Santander Banespa. Na semana passada, R$ 538 milhões do Santander Banespa Referenciado DI foram transferidos para o Santander Banespa Multi Estratégia - um multimercado. Mas, excluindo-se a transferência entre fundos do Santander, os DI ainda perdem em junho. Outra explicação pode ser a migração de fundos para CDBs, cujo volume de investimentos cresceu 14,4% em 2005, de R$ 171, 4 bilhões em dezembro para R$ 196,2 bilhões, segundo o Banco Central. O desempenho ruim dos fundos em junho faz com que o volume captado em 2005 - de R$ 7,037 bilhões - volte aos níveis registrados no fim de fevereiro, quando a captação líquida era de um pouco mais de R$ 7,2 bilhões. Distante, portanto, do pico alcançado no início de abril, período em que o setor acumulava R$ 13,8 bilhões. No ano, há saídas principalmente nos multimercados, que não vêm atendendo as expectativas de ganhos dos investidores. Em 2005, os resgates chegam a R$ 38,687 bilhões. Parte desse valor se refere às mudanças de classificação de alguns fundos para a renda fixa, cuja captação passa de R$ 30 bilhões. Mas muitos investidores estão trocando fundos mais agressivos, como multimercados, por CDBs, garantindo a rentabilidade e segurança do CDI e aguardando a queda dos juros para voltar a arriscar. "Tivemos vários clientes que nos disseram que vão ficar um tempo em CDBs", diz Marco Sudano, da gestora de recursos Quantix. Na semana passada, os multimercados renderam em média 0,23%, ante 0,36% acumulado pelo CDI. Em junho, a diferença destas carteiras com relação ao referencial cai um pouco, voltando a aumentar no acumulado do ano: ganho de 6,48% dos mistos, ante 7,77% do CDI. Em termos de rentabilidade, as turbulências têm feito mais estragos na renda variável. Entre os dias 2 e 9, os fundos de ações zeraram os ganhos acumulados na semana anterior, com perdas de mais de 5%. Em igual período, o principal referencial do setor, o Índice Bovespa, caiu 8%. Com isso, os fundos de ações acumulam queda de 2% no mês e de quase 7% no ano. Os fundos de privatização também não vão bem em junho, em queda de 3,75% na semana passada, e de 0,23% no acumulado do mês. No ano, porém, a variação é positiva, de 0,49%. Os cambiais reverteram a tendência negativa dos últimos meses, com ganhos de 3,4% em junho. Em 2005, a queda é de 5,5%. Nesses números, porém, não está ainda a recuperação da bolsa de sexta-feira, nem a queda do dólar dos últimos dois pregões. Embora a tendência geral seja de resgates, os números da semana indicam que ainda não existem sinais de pânico entre os investidores, diz Marcelo D'Agosto, economista e sócio do site Fortuna. "A quantidade fundos com captação e com resgates na semana mostra que o quadro está mais ou menos equilibrado." Na semana passada, os quatro fundos com os maiores resgates perderam R$ 1,149 bilhão, enquanto as quatro carteiras que receberam mais depósitos somaram R$ 973 milhões em recursos novos, segundo o Fortuna. (colaborou Angelo Pavini)