Título: Oposição a Genoino no PT se fortalece
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2005, Política, p. A5
Crise Partidários do "Campo Majoritário" cogitam adiar a eleição interna do partido mas seus adversários resistem
A crise enfrentada pelo PT deve reforçar a oposição interna. As tendências contrárias à gestão do presidente do partido, José Genoino, atribuem a crise à política de alianças que sempre criticaram. Por receio do fortalecimento da oposição, partidários da candidatura Genoíno já discutem o adiamento das eleições internas, prevista para setembro. O adiamento, no entanto, é rechaçado pelos adversários do "Campo Majoritário", corrente que domina o PT. "O adiamento, por medo de perder, é um absurdo inominável", disse, em nota, o 3º vice-presidente do PT e candidato à sucessão de Genoino, Valter Pomar. Ele diz que a crise "não é surpresa": "Com essa política de alianças, já sabíamos o que viria. O que se intensificou foi a necessidade de escolher uma direção, com mais capacidade política e de reação." Candidato pela Articulação de Esquerda, Pomar aposta que os militantes vão demonstrar, no voto, o descontentamento com a direção. Na última reunião do Diretório Nacional, para definição das chapas que concorrerão no processo eleitoral, o próprio Genoino reconhecera que era preciso requalificar a base. Entretanto, na semana passada, o dirigente reforçou o apoio de todos os partidos aliados, inclusive o PTB, para descontentamento da esquerda. "Não adianta ter uma base tão grande para dar dor de cabeça. Isso reflete que o partido precisa de uma rearrumação. Fica muito visível pela forma como a direção está conduzindo. Este caso deu um chacoalhão no governo", criticou o deputado federal Chico Alencar (RJ). Um dos fundadores do PT e candidato à presidência do partido, o ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, critica as escolhas dos aliados. "Essa direção perdeu o rumo, aceitou a situação. O governo precisa fazer aliança e se enreda nessas coisas. É aquilo que o Dutra (Olívio Dutra, ministro das Cidades) falou: são as más companhias, que vivem nisso e acabam enveredando o partido por esses caminhos. Não estou dizendo que existe corrupção, mas o simples fato de se envolver, de precisar apurar é ruim para o partido." Plínio avalia que a direção deveria ter tranqüilizado os militantes assim que os rumores começaram: "Faltou a direção dizer, no começo do caso, aquilo que o homem do povo sempre diz: 'Quem não deve não teme'. Se tivesse tivesse deixado fazer a CPI, teria sido melhor. Agora os parlamentares que assinaram a CPI saíram prestigiados, porque o PT teve que voltar atrás." Candidato da tendência Democracia Socialista, o deputado estadual e ex-prefeito de Porto Alegre, Raul Pont, reforça a crítica à base parlamentar: "Ninguém vai cobrar de Genoino a responsabilidade pelo que está acontecendo, e sim pela política de alianças. Ele continua a defender a aliança com PTB". O ministro Tarso Genro acredita, no entanto, que enquanto o partido for atacado os grupos tentarão blindá-lo. "A militância está perplexa, mas quando o partido é agredido, os militantes se unificam na defesa." A tese é refoçada pela candidata do Movimento PT, deputada federal Maria do Rosário (RS): "Não pretendo fazer da circunstância espaço para crescer. Não seria leal ao partido".