Título: Presidente quer diálogo com oposição e FHC
Autor: Cristiano Romero e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2005, Política, p. A7

Além de reorganizar sua base de apoio no Congresso, o presidente Lula pretende distensionar a relação do governo com a oposição. A idéia do presidente é retomar o diálogo, especialmente com o PSDB. A atuação dos tucanos na CPI dos Correios criou um clima positivo no Palácio do Planalto para uma aproximação. Nem mesmo a possibilidade de um encontro de Lula com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está descartada. Lula, no primeiro ano de governo, conversava com FHC antes das viagens internacionais e se relacionava bem com os governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e de Minas, Aécio Neves. No Congresso, o diálogo entre o governo e a oposição sempre foi pontual, como na aprovação da reforma da Previdência, mas está interrompido, pelo menos, desde fevereiro de 2004, quando eclodiu o escândalo do assessor Waldomiro Diniz. Agora, no processo para a criação da CPI, os tucanos andaram na contramão de seu principal parceiro na oposição, o PFL, e apoiaram a proposta do governo de restringir o foco da investigação aos Correios. Além disso, o PSDB não considera o escândalo recente um caso que justifique o impeachment do presidente, ao contrário dos pefelistas que chegaram a comparar o caso ao escândalo do Watergate, que derrubou o presidente americano, Richard Nixon, em 1974. A senha para a guinada tucana foi dada por Fernando Henrique em artigo publicado nos jornais "O Globo" e "O Estado de S. Paulo". Segundo FHC, o governo poderia ter o "respaldo da oposição", como teve várias vezes ao longo do ano de 2003, se "escolhesse um caminho de maior grandeza". Entre outras coisas, o ex-presidente sugeriu a realização de itens da reforma política "e a redução drástica das nomeações em cargos de confiança". Na terça-feira passada, Lula incumbiu o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de propor uma reforma política. Desagradou ao Congresso, onde já há acordo para votar de forma fatiada vários dos itens sugeridos por Fernando Henrique, aprovados no Senado e à espera de um parecer na Câmara. O PT deve tentar o apoio do PSDB para aprovar esses itens, de vez que o PFL, embora apóie os projetos em tramitação, hesita em votá-los por considerar que a proposta é uma manobra diversionista do Planalto por causa da crise. É certo também que o governo estuda há algum tempo uma "redução drástica" no número de cargos de confiança, estimados hoje em mais de 20 mil. A medida está no âmbito de um pacote anticorrupção em gestação no governo e só não foi anunciada ainda por causa da crise política.