Título: Lula mobiliza-se para recompor governo
Autor: Cristiano Romero e Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2005, Política, p. A7

Crise Mudanças incluiriam uma ampliação do espaço do PMDB e a redefinição do papel do ministro José Dirceu

Preocupado com a evolução da crise política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com assessores e ministros em pleno domingo e decidiu convocar reunião, para esta segunda-feira, com os ministros políticos do governo. A um dia do início dos trabalhos da CPI que vai investigar denúncias de corrupção contra seu governo, o presidente quer definir e unificar o discurso de sua equipe e acertar uma ofensiva contra o presidente nacional do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). Lula planeja reformular a base de apoio congressual, negociando um amplo acordo com o PMDB. Na noite de ontem, o presidente se reuniu, na Granja do Torto, com o ministro da Casa Civil, José Dirceu, para tratar de sua permanência no governo. Dirceu manifestara a intenção de se demitir do cargo e reassumir o mandato de deputado federal para se defender, no Congresso, das denúncias de Jefferson. Em conversas com amigos, ele tem demonstrado insatisfação com a política econômica e dito também que o PT está se defendendo mal das acusações feitas pelo presidente do PTB. Avalia que poderia defender melhor o partido estando no Congresso. Antes de se encontrar com o presidente, Dirceu reuniu-se com o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, que o aconselhou a ficar no governo. Aldo argumentou que é melhor ele se defender estando no cargo de ministro. Não haveria sentido para o ministro, na opinião de Aldo, ir para o Congresso bater boca com Roberto Jefferson. De manhã, em reunião na Granja do Torto, o ministro da Coordenação Política defendeu essa posição junto ao presidente. Por volta das 20h, o presidente do PT, José Genoino, se juntou a Lula, ao chefe da Casa Civil e ao secretário particular do presidente, Gilberto Carvalho. Às 21h30, Dirceu deixou a residência presidencial, sem que uma decisão tenha sido tomada. Ele voltará a tratar do assunto amanhã, em reunião com o presidente às 17h30. Lula voltou a fazer consultas sobre a possibilidade de promover uma ampla reforma no ministério, mas a sua tendência é realizá-la após os desdobramentos da CPI dos Correios e da crise, embora esteja sendo aconselhado por alguns ministros a mudar a equipe o mais rápido possível. Ontem, além de ter se reunido com Aldo, Dirceu, Genoino e Carvalho, o presidente recebeu na Granja do Torto o ministro da Comunicação do Governo, Luiz Gushiken, e o porta-voz da presidência, André Singer. Nas conversas que teve ontem, o presidente discutiu estratégias para enfrentar a turbulência política. Segundo apurou o Valor, na conversa com Aldo Rebelo, Lula foi aconselhado a reformular a base de apoio ao governo e a buscar, de forma pragmática, ampliar essa base. O plano é ambicioso. Passa pela negociação de um amplo e profundo acordo com o PMDB e pela redefinição do apoio do PT. "A idéia é trazer o PMDB inteiro para o governo", contou um colaborador do presidente. Autorizado por Lula, Aldo Rebelo passou o fim de semana costurando esse acordo. Na noite de sábado, encontrou-se com o senador José Sarney (PMDB-AP). Ontem, depois de se reunir com o presidente, Aldo esteve com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e com o ministro das Comunicações, Eunício Oliveira, da cota do PMDB no primeiro escalão. Aldo e outros ministros políticos do governo avaliam que existe, neste momento, uma oportunidade para ampliar a aliança com o PMDB. O partido não foi atingido, até agora, pelos escândalos envolvendo quatro partidos da base congressual - PT, PP, PL e PTB. Além disso, haveria dentro da sigla hoje um movimento para diminuir suas cisões internas, o que favorece um entendimento com o governo. Além do PMDB, o governo quer definir com o PT um núcleo de apoio firme ao governo. Partido majoritário da base congressual desde a posse de Lula, o PT está dividido e cheio de fissuras graças às denúncias de Roberto Jefferson. O que o Palácio do Planalto pretende é negociar um bloco de apoio ao governo dentro do partido do presidente. É intenção do Planalto também buscar apoio no PDT e mesmo no PPS, partidos que romperam com o governo depois de terem feito parte de sua base congressual. A avaliação é que nenhum dos dois voltará a integrar o governo, mas a idéia é obter assim mesmo a adesão de parlamentares das duas siglas aos projetos de interesse do Palácio do Planalto. Nos casos do PL e do PP, a estratégia é deixar que esses dois partidos se refaçam das acusações feitas por Jefferson para, depois, voltar a tratar com eles a sua participação na base de apoio ao governo. "O diálogo prioritário não pode ser com esses dois partidos", alega um ministro. Feito o rearranjo da base de apoio, o presidente Lula faria a reforma ministerial, partindo dos compromissos assumidos pelos partidos em relação ao governo. Lula foi aconselhado também a voltar a operar politicamente, o que significa participar ativamente de contatos com os presidentes e líderes dos partidos aliados e receber parlamentares no Palácio do Planalto. "Ele tem que entrar na operação política. O tempo agora corre contra nós", comentou um ministro. Hoje, o presidente do PT, José Genoino, deve se reunir com a coordenação da bancada do PT para acertar a contra-ofensiva governista. A idéia, segundo dirigentes do partido, é "colocar o deputado Roberto Jefferson no seu devido lugar" e insistir que ele faz denúncias sem provas. A ofensiva será política e não deve envolver o presidente Lula, que, por enquanto, cuida das mudanças que pretende fazer no governo. "O PT nunca participou de reuniões no Palácio do Planalto para discurtir cargos com o PTB", afirmou Genoino. "O deputado Roberto Jefferson está espalhando mentiras e calúnias para encobrir as coisas de que está sendo acusado."(Colaborou Taciana Collet)