Título: Universalização da educação tem bons resultados
Autor: Silvia Torikachvili
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2005, Opinião, p. B2

Sem mudanças no modelo econômico, a sobrevivência das empresas estará ameaçada. "O atual modelo produz mais perdedores que ganhadores", adverte Luís Fernando Nery, gerente de comunicação nacional da Petrobras. Na direção dessa transformação, Nery lembra que nos últimos cinco anos, desde o lançamento das Oito Metas do Milênio, na Organização das Nações Unidas, o Brasil vem avançando. No capítulo da universalização da educação, 97% das crianças já têm acesso à escola. Em compensação, ainda há no Brasil 14,5 milhões de analfabetos de 15 anos ou mais, segundo dados do IBGE citados por Ana Maria Pelliano, da Diretoria de Estudos Sociais (DISOC) do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA). As citações foram feitas ontem, no encerramento da Conferência Internacional do Instituto Ethos durante o painel "Metas Brasileiras do Milênio: Qual o Brasil que Queremos?" A meta brasileira é fazer com que todas as crianças brasileiras terminem um ciclo completo de ensino. Reduzir a fome e a pobreza e promover o saneamento básico para 40 milhões de brasileiros desassistidos são metas com níveis graves de dificuldade, segundo Ana Maria. "Isso exige esforço dos governos estaduais, municipal e federal e de toda a sociedade organizada." Quanto à mortalidade infantil, Ana Maria lembra que o Brasil está no bom caminho. Entre 1990 e 2002, segundo dados do IBGE, a mortalidade até 12 anos caiu cerca de um terço. A água é de fácil acesso a 90% da população urbana. Mas apenas 25% desse contingente tem acesso a esgoto adequado. "Problemas sociais não se resolvem com atuação em apenas numa área", adverte Ana Maria. "Por isso, a responsabilidade social das empresas é determinante quando se toca em assuntos como boa remuneração e políticas para o mercado de trabalho." Para Luís Fernando Nery, da Petrobras, a questão é de consciência. "As corporações que quiserem desfrutar da perenidade precisam fazer planejamento de longo prazo - e nesse planejamento a responsabilidade social deve constar como prioridade", diz ele. "Mais que isso, as empresas precisam mobilizar todos os grupos de relacionamento de forma a reverter esse modelo de crescimento mundial que não garante a sobrevivência do planeta por muitas gerações." Nery argumenta que o modelo econômico alimenta uma escala de apropriação de recursos naturais insustentável. "As empresas não poderão viver num planeta sem sustentabilidade", avisa. Tratar dos problemas sociais, portanto, segundo Nery, não é uma questão de filantropia, mas de estratégia empresarial. A perspectiva de uma melhor distribuição de renda em busca de uma maior sustentabilidade fará toda a diferença para o cumprimento das metas do milênio. "O trabalhador infantil de hoje é o desempregado de amanhã", adverte Nery. O governo Lula deu início à erradicação da fome e da pobreza com o Programa Bolsa Família. Em 2004 foram 5 milhões de famílias contempladas. Em 2005, o programa deve atingir 8,7 milhões de famílias; e em 2006 calcula chegar a 8,7 milhões. "São 50 milhões de pessoas excluídas sem qualquer renda mínima que garanta a sobrevivência", lembra Nery.