Título: Demanda por vagões deve cair a partir de 2008
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 13/06/2005, Empresas &, p. B10

Após um período de euforia, marcado por encomendas crescentes, a indústria de vagões no Brasil começa a vislumbrar ajustes, e poderá enfrentar uma queda mais severa na demanda a partir de 2008, quando as ferrovias terão feito as renovações de material rodante projetadas. O cenário considera uma demanda de 4 mil vagões no país em 2008, o que representa queda de 43% em relação às cerca de 7 mil unidades previstas para serem colocadas este ano, estima Vicente Abate, diretor de vendas e marketing da Amsted Maxion e vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer). O ajuste na indústria de vagões não significa uma inversão na tendência de crescimento do setor ferroviário, que deverá continuar acima do Produto Interno Bruto (PIB), segundo visão do diretor executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Rodrigo Villaça. A entidade, que reúne as ferrovias, projeta investimentos de R$ 7,1 bilhões entre 2005 e 2008 na melhoria da malha e na compra de vagões e locomotivas. Mas entende que o governo precisa aplicar outros R$ 4,2 bilhões no período para resolver gargalos de infra-estrutura e permitir o crescimento do setor. Em 2005, segundo a Abifer, a demanda de vagões deve crescer cerca de 52% no país sobre a de 2004, quando a indústria entregou 4,6 mil vagões. A médio prazo, porém, a perspectiva indica que os fabricantes de vagões terão de se voltar para serviços de manutenção ou até mesmo converter em outros usos parte de sua capacidade instalada. Em 2006, a demanda pode cair para 5 mil vagões, número que poderá se repetir em 2007. Mas a partir de 2008, o número se estabilizaria em 3 mil a 4 mil unidades/ano, prevê Abate, com base em estudos da Amsted Maxion. "Considero cinco mil vagões/ano um bom patamar", opina Júlio Fontana Neto, presidente da MRS Logística. Fontana considera que passada a fase da euforia na demanda por vagões e locomotivas no país é preciso se concentrar mais na qualidade dos produtos. O "boom" na indústria ferroviária ocorreu a partir de 2003 com a expansão das concessionárias, num movimento puxado pela exportação de minério de ferro e de grãos e pelo fato de a ferrovia ter começado a ganhar carga da rodovia. O desenvolvimento do setor ferroviário, aponta Fontana, tem de considerar o fato de que o Brasil ainda não produz trilhos e que a fabricação de locomotivas de maior potência (acima de 3 mil HPs) só ocorrerá quando houver "coerência tributária na importação de componentes". Fontana também entende que as concessionárias enfrentam um sistema cartelizado no fornecimento de itens ferroviários. Em 2005, a MRS comprou 29 locomotivas importadas dos Estados Unidos e 716 vagões da Amsted Maxion. Os gargalos e as potencialidades de desenvolvimento do setor ferroviário, em relação a outros países, serão debatidos na 8ª Conferência Internacional de Ferrovias de Transporte de Carga Pesada, evento da International Heavy Haul Association (IHHA) que começa amanhã e vai até quinta no Riocentro. O evento, promovido a cada quatro anos, é realizado pela primeira vez na América do Sul e tem como anfitriã a Companhia Vale do Rio Doce, cujas ferrovias Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) e Carajás podem ser incluídas no conceito de malhas de cargas pesadas, assim como a MRS. "O evento permitirá discutir o crescimento do setor e as atenções estarão voltadas para o Brasil e para a China", pondera Eduardo Bartolomeo, diretor de operações logísticas da Vale. O evento inclui uma feira, um congresso técnico e um seminário internacional. Este ano, diz o diretor, a mineradora encomendou 5.606 vagões, número semelhante ao que a empresa já havia demandado no período 2002-2004 (6.556 unidades). A Vale também comprou 123 locomotivas este ano. Bartolomeo considera que a ferrovia ainda tem muita carga para conquistar no Brasil e lembra que o modal ampliou sua participação na matriz de transporte do país de 16% para 25%. Ele também é otimista quanto ao desenvolvimento da indústria de máquinas para o setor. Segundo ele, a Vale montou uma força-tarefa com a GE para tentar viabilizar a construção de locomotivas no país. Para Ronaldo Moryama, diretor-executivo da MGE Transportes, a produção de locomotivas no país depende de uma demanda forte nos próximos cinco anos. "Montar (as locomotivas no Brasil) faz mais sentido", salientou.