Título: Escudeiros no Congresso
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 12/04/2010, Política, p. 4

Dilma e Serra contam com negociadores no Parlamento. Enquanto Palocci faz a ponte petista, Jutahy busca aliados entre deputados e senadores para a campanha do tucano

Com experiência de vários mandatos e passagens por ministérios, os deputados Antonio Palocci (PT-SP) e Jutahy Magalhães (PSDB-BA) são hoje os principais articuladores das campanhas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) no Parlamento. O tucano manteve uma carreira política mais estável nas últimas décadas, mantendo sempre uma relação estreita com Serra. O petista experimentou momentos de glória, de absoluto poder no governo Lula, e desgraça política, quando se viu envolvido no episódio da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa. O seu contato é mais forte com Lula do que propriamente com a candidata petista. Os dois escudeiros dos presidenciáveis são nomes certos num futuro governo, mas é óbvio que apenas um deles poderá chegar ao poder.

>> perfis Jutahy Magalhães Júnior

Mandatos acumulados

A força eleitoral de um político pode ser medida pela quantidade de mandatos que ele coleciona ou pelo tempo. A arte de ser um político proeminente, na maior parte das vezes, cabe à experiência. E aos laços que se criam nesse caminho. Filho e neto de políticos, o deputado federal Jutahy Magalhães Júnior (PSDB-BA) poderia ter a política embutida no próprio código genético. Os sete mandatos acumulados o aproximaram de José Serra. Tido como principal articulador do pré-candidato tucano à Presidência dentro do Congresso Nacional, Jutahy coleciona situações em que apoiou ou foi apoiado pelo ex-governador paulista. Com a nova tentativa de Serra em chegar ao Planalto, é protagonista certo em um possível governo do tucano.

O primeiro pé na política Jutahy colocou pelo PDS, sucessor da Arena. O rastro seguido pelo político de família cearense, mas com carreira política na Bahia, foi o familiar. O histórico de filiações inclui ainda o PMDB, até a cessão do partido, que resultou no PSDB. O primeiro contato com Serra se deu em 1987, como deputado constituinte. Empatia criada, fez dobradinha com o presidenciável na liderança do partido na Câmara dos Deputados, em 1990. Serra na cabeça de chapa, Jutahy como vice-líder. A ascendência do político paulista serviu, aos poucos, como âncora para a atuação parlamentar do advogado baiano, fã dos Beatles e do cineasta italiano Giuseppe Tornatore.

Frutos colhidos Nomeado ministro do Bem Estar Social por Itamar Franco, em 1992, Jutahy preencheu os quadros da pasta com indicações de Serra. O político paulista recomendou técnicos para as áreas de controle, saneamento, fiscalização. Como herança, a pasta deixou a Lei Orgânica da Assistência Social que, segundo cálculo do próprio político, atende 3 milhões de idosos. A abrangência da medida não garantiu a Jutahy o governo da Bahia, em 94 ele terminou a disputa em 3º lugar. Naquela eleição, ele apoiou Luiz Inácio Lula da Silva na disputa presidencial porque o candidato tucano, Fernando Henrique Cardoso, se aliou a Antonio Carlos Magalhães, seu maior adversário da Bahia. A volta à Câmara, a partir de 1998, fez do político tucano o porta-voz preferido de Serra no Parlamento. Como ministro da Saúde, o ex-governador de São Paulo colocou nas mãos do colaborador relatorias importantes, como a que proibiu a propaganda de cigarro em rádio e tevê.

Laço criado, frutos colhidos. Por quatro vezes, Jutahy se elegeu líder do PSDB na Câmara. Todas com o empurrão amigo de Serra. Como contrapartida à ajuda, trabalhou na campanha do parceiro político à Presidência da República, em 2002. E cravou seu nome como colaborador também agora, em 2010. A expectativa é que o político baiano deixe a reeleição à Câmara em segundo plano, para investir na campanha nacional do partido. Fará parte da linha de frente de apoio a Serra, com Paulo Bornhausen (DEM), José Carlos Aleluia (DEM) e o conterrâneo João Almeida (PSDB), entre outros. Servirá de interlocutor com a imprensa e articulador de campanha. O prêmio pelo trabalho, ele garante não se importar. Nunca perguntei o que eu seria no governo, caso Serra tivesse sido eleito em 2002. Agora, idem, minimiza.

Antônio Palocci

Político submerso Médico e sanitarista, mas com pés e cabeça direcionados à economia nos últimos anos, Antônio Palocci estuda submergir politicamente pela segunda vez. O prazo riscado pelo ex-ministro da Fazenda para voltar à superfície marca janeiro de 2011. Coordenador da campanha presidencial petista em 2002, e ex-homem forte do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Palocci escapa, aos poucos, do purgatório político. Principal articulador da campanha de Dilma Rousseff dentro do Congresso Nacional, o deputado federal pode abrir mão de disputar um novo mandato. A eleição para governador de São Paulo já foi descartada, por conselho de Lula. Principal candidato à sucessão do presidente, até março de 2006, Palocci arriscou as fichas de que dispunha para voltar à ribalta a partir de novembro, com a eleição da candidata petista. O endereço desejado, novamente, é a Esplanada dos Ministérios.

Acostumado aos sismos políticos, Palocci é considerado a principal eminência-parda da campanha de Dilma Rousseff. Ex-prefeito de Ribeirão Preto por duas vezes (1993-1996 e 2001-2002) e ex-deputado estadual, chegou à elite do partido quando herdou do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em 2002, a coordenação do programa de governo da primeira campanha vitoriosa de Lula à Presidência. Alçado à condição de sucessor de Pedro Malan na Fazenda, galgou degrau a degrau a hierarquia do Planalto. Era o provável candidato petista à sucessão de Lula. Até que foi tragado pelas denúncias de que teria quebrado ilegalmente o sigilo bancário de Francenildo Costa.

Licitações O caseiro reforçara as denúncias de um ex-colaborador de Palocci, Rogério Buratti, que acusava o então ministro de fraudes em licitações. O extrato bancário de Francenildo foi estampado por uma revista semanal em todo o país. A responsabilidade pela quebra de sigilo sempre foi negada pelo então ministro, mas o episódio custou-lhe o cargo na Esplanada, em março de 2006. Palocci submergiu pela primeira vez. Voltou à superfície em outubro, eleito para a Câmara com 152.246 votos.

No Congresso, Palocci adotou postura discreta mas, aos poucos, retomou parte do poder. Relatou projetos importantes para o governo ligados à economia. A lista inclui a criação do Fundo Social, destino de parte da receita da exploração de petróleo na camada do pré-sal. Absolvido pelo Supremo no fim do ano passado, Palocci almejou o governo de São Paulo. Aconselhado por Lula, recuou. Foi estimulado a sonhar com uma volta à Esplanada pela porta da frente, em um eventual governo de Dilma. Como tem eleição praticamente certa à Câmara, ainda estuda se candidatar.

Como principal articulador da campanha petista ao Planalto, Palocci carrega as credenciais de ser o avalista de Dilma junto ao empresariado. A confiança do mercado, herdada da época à frente da Fazenda, traz recursos e respaldo econômico à candidatura da ex-ministra. O prestígio foi confirmado em declarações recentes, do presidente do grupo Gerdau, Jorge Gerdau, e do presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, Benjamin Steinbruch.