Título: Demanda em alta estimula contrato de longo prazo
Autor: Raquel Balarin e Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 21/10/2004, Empresas, p. B-1

A demanda por minério de ferro continuará a crescer nos próximos anos. E a percepção de que nem mesmo as tentativas de desaceleração do crescimento da China ou os aumentos de capacidade de produção do minério serão suficientes para evitar o aperto da oferta está estimulando cada vez mais o fechamento de contratos de fornecimento de longo prazo - e por prazos cada vez mais longos. Só neste ano, a Companhia Vale do Rio Doce - considerada uma das "Big Three" desse mercado, ao lado de Rio Tinto e BHP Billiton - anunciou o fechamento de contratos de longo prazo que totalizam 423 milhões de toneladas de minério, por prazos que vão de três a dez anos. A produção estimada da empresa para 2004 é de 180 milhões de toneladas, excluindo-se a Caemi, e de 220 milhões de toneladas, incluindo a controlada, de acordo com cálculos do UBS. Apenas em 2005 e 2006, os contratos anunciados este ano garantem fornecimento anual à companhia - maior produtora e exportadora do mundo, com 32% do mercado - de 45,23 milhões de toneladas de ferro. "A Vale já trabalhava com contratos de longo prazo, mas a diferença agora é que os prazos se estenderam de três a cinco anos para dez anos e a empresa passou a anunciar esses acordos", afirma Edmo Chagas, analista da área de mineração do banco UBS. Foto: Leo Pinheiro/Valor

Embarque de minério no terminal de Ponta da Madeira, privativo da mineradora, em São Luís, no Estado do Maranhão

Procurada, a mineradora brasileira informou que regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Securities Exchange Comission (SEC, a CVM americana) impedem a empresa de se posicionar sobre assuntos estratégicos como a quantidade da produção futura já comprometida com contratos de longo prazo. O analista Dallas Horadam. AME Mineral Economics, da Austrália, uma das maiores empresas mundiais de pesquisa do setor, disse ao Valor que o fechamento de contratos de longo prazo tem dois efeitos. Para os produtores de aço, que estão preocupados com a oferta de sua principal matéria-prima, garante suprimento livre dos efeitos voláteis do mercado spot (vendas à vista). Para as mineradoras, esses contratos dão estabilidade ao desenvolvimento de planos de negócios e de novos projetos de expansão. "Quando as autoridades chinesas introduziram medidas para esfriar sua superaquecida indústria do aço - que neste ano pode alcançar 270 milhões de toneladas - e as importações de minério de ferro despencaram (temporariamente), o mercado spot é que foi afetado. Ao mesmo tempo, os principais produtores continuaram a se esforçar para atender a demanda." Projeção conservadora da consultoria World Steel Dynamics indica que a China vai produzir 322 milhões de toneladas em 2007. A projeção da AME é de que o consumo mundial de minério de ferro crescerá de 1,3 bilhão de toneladas em 2003 para 1,66 bilhão em 2010. A Ásia - com a China à frente - será responsável por 39,5% desse consumo. O Brasil, em 2010, deverá responder por uma produção de no mínimo 360 milhões de toneladas. A China tem ampliado significativamente suas importações de minério devido à baixa qualidade de seu produto. As compras externas saltaram de 70 milhões de toneladas em 2000 para 148 milhões em 2003. Neste ano, as importações podem chegar a 200 milhões de toneladas, ou 40% do total consumido no país, segundo a AME. Outro fator que tem ampliado o consumo de minério de ferro é tecnológico. De 1970 até meados da década passada, houve um forte crescimento nas siderúrgicas dos fornos a arco elétrico, equipamento que funde a sucata a partir da energia gerada por um arco elétrico ligado a eletrodos. O problema dessa tecnologia - e que levou à sua estagnação - é a crescente escassez de sucata e de energia elétrica. Por isso, as expansões dos últimos anos e as já em desenvolvimento são baseadas em altos-fornos, que utilizam o minério de ferro. "Isso quer dizer que no mínimo a demanda por minério crescerá tão fortemente quanto a produção de aço", explicou Horadam. A maior demanda mundial já levou o preço do aço a dobrar nos últimos 12 meses. Segundo o analista de mineração e siderurgia de um banco nacional, a tonelada da placa, que há pouco mais de um ano valia US$ 250 (FOB), passou de US$ 500 (para cada tonelada de placa é utilizada 1,5 de minério). "Por isso, além dos 18,6% de alta do minério em 2004, esperamos aumento de cerca de 20% em 2005. Disso não há dúvida. O que se começa a discutir é como ficarão os preços em 2006", diz. Segundo o analista, com a entrada em operação de novas expansões, é possível que as cotações do aço recuem um pouco. "Por isso, agora é o melhor momento para fechar contratos de longo prazo."