Título: Renan recebe pedido de abertura da CPI do mensalão
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2005, Política, p. A6

PPS, PDT e PV entregaram ontem ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) o requerimento para a abertura da CPI do Mensalão. O objetivo da comissão é apurar as denúncias, feitas pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), de que o PT pagava mesadas a deputados do PP e do PL, o chamado mensalão, em troca de apoio ao governo. Assinaram o requerimento 205 deputados e 41 senadores. No comando do Congresso, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) afirma que agirá "com isenção" nas investigações para apurar corrupção no governo, no Legislativo e nos partidos. "Sou presidente do Congresso Nacional. Não sou líder do governo e nem porta-voz da oposição", disse Renan ontem ao Valor. Ao contrário de seu antecessor, José Sarney (PMDB-AP), que se recusou a indicar os nomes para a CPI dos Bingos - o que Renan pode vir a ser obrigado a fazer por determinação do Supremo Tribunal Federal -, o atual presidente do Congresso assegura que, se for o caso, instala "uma, duas, três CPIs". Para isso, basta que elas atendam "o limite óbvio, que é o limite do regimento e da Constituição" - ou seja, os requerimento precisam ter fato determinado, o número de assinaturas necessárias e prazo para as investigações. Até três CPIs podem funcionar no Congresso, neste e no próximo semestre. A CPI dos Correios já foi instalada. Para a CPI do Mensalão, Renan mandou conferir as assinaturas e vai pedir que os partidos indiquem seus representantes. Se os líderes não o fizerem, está disposto a fazer as indicações. A terceira CPI é a dos bingos, cuja instalação está sendo decidida pelo STF. Há pedidos de CPI separados para apurar as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) na Câmara e no Senado. Renan pretende tratar do assunto com Severino, pois considera um problema uma Casa investigar a outra - no caso, o Senado apurar o recebimento de mensalão por deputados. A solução pode ser a criação de uma única CPI. Como presidente do Congresso, Renan afirma que tenta agir com "serenidade e isenção". Articula, por exemplo, um acordo entre governo e oposição para a designação do comando da CPI dos Correios, mas está pessimista. Um outro problema surgiu: de comum acordo com os líderes, ele indicou a senadora Heloisa Helena (P-Sol-AL) para a CPI dos Correios. Está sendo contestado pelo senador Walmir Amaral (PMDB-DF). Heloísa Helena está sem partido e regimentalmente não poderia integrar comissões da Casa. Com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador recomendou que não é hora para o governo tratar de reforma ministerial. Com o ministro Antonio Palocci (Fazenda) e federações de indústria articula uma agenda comum para não deixar o Congresso parado durante as investigações. "Mais do que nunca o país precisa do compromisso com a governabilidade", afirma Renan. Para o presidente do Congresso, o país vive um momento "historicamente importante, com o qual precisa aprender muito", entre outras coisas "que nada pode substituir a investigação e o esclarecimento". Renan também rechaça a idéia de que a investigação pode vir a ser controlada ou blindada pelo governo mediante um acordo, por exemplo, com o PMDB: "É um grande engano alguém achar que pode restringir a investigação". (Colaborou Henrique Gomes Batista)